quarta-feira, 27 de novembro de 2013



 

"Que ele me beije com os beijos da sua boca!" (1.2)

Cantares é a obra mais romântica e simbólica da literatura universal. Seus símbolos ilustram o amor em uma profusão que o leitor fugaz não percebe. Trata-se de uma óde atemporal, que representa o amor entre um homem e uma mulher do modo mais sagrado e belo.

No centro de Cantares está o amor que se exprime com naturalidade, simplicidade, pureza e calor a sua paixão e intimidade: “gritos de alegria, a voz do noivo e a voz da noiva” (Jr 7.34; 16.9; 25.10). Justamente por causa da absoluta universalidade dessa experiência, os símbolos usados em Cantares são constantes e logo perceptíveis, pelo menos a nível global, embora nos detalhes estejam carregados de conotações orientais, exóticas e, às vezes, exasperadas.

Amor

Cantares é um encontro com o amor. Trata-se de um verdadeiro minivocabulário de palavras repetidas dezenas de vezes, porque o enamorado nunca se cansa de dizer à sua mulher: Tu és fascinante (na’wah); és encantadora (iafah); minha amada (‘ahabah); minha irmã (‘ahotî); minha esposa (kallah); meu tesouro (ra ‘iatî); amor de minha alma (‘ahabah nafsî), minha única (6.9). Cantares convida o homem moderno a expressar sem medo ou receio o seu mais profundo amor à mulher amada. Desperta o amásio a expressar as mais significativas e belas frases de amor. A palavra é geradora de sentimentos e fertilizante para o coração.

E para a mulher, o esposo é sempre dodî, “o meu amado”. É assim que o coração é arrebatado (4.9), a paixão é fremente (7.11; 8.7), a delícia (5.17) cancela a vergonha (8.1,7), o anelo inconsciente (6.12) gera contemplação (7.1) e predileção (6.9). Há quase um desmaio de amor (2.5), numa espécie de doença incurável (2.5; 5.8), num sono estático (2.7; 3.5; 5.2; 7.10; 8.4,5), numa embriaguez (5.14), num desfalecimento incitante (5.6). Mas também há o medo que perturba (6.5), há a ausência insuportável (5.6), os pesadelos noturnos (3.8). Mas tudo se esvaece e apenas ouve-se aquela voz doce e suave (2.14). Então tudo volta a ser triunfo dos sentidos numa espécie de paraíso do olfato e do paladar: os frutos do amor são saborosos (2.3; 4.16; 7.9,14), são mel, néctar, leite (4.11; 5.1,12), doçura para o paladar (5.17) [1].

O amor é comparado a cheiros e sabores. Na carreira diária, às vezes, nos esquecemos do estro que nos torna humanos. Colocamos os nossos sentidos reféns do vil metal, enquanto eles são indispensáveis ao conhecimento do outro. Não se ama sem odores e cheiros. O amásio conhece o doce cheiro de sua amada e o paladar de seus lábios. O amor demonstrado na obra eleva o amor a um estado de completo arrebatamento. O poema recomenda aos amásios a sentirem o cheiro e o sabor um do outro. É um convite ao verdadeiro encontro! Nesse amor sublime, nada espiritual e muito menos mundano, os amásios são convidados a viverem com toda intensidade a sua plena humanidade e conjunção carnal nos laços do matrimônio.

Corpo

Não existe, de fato, um livro bíblico que siga tão intensamente a realidade do corpo em todos os seus meandros e segredos e em toda a sua aparência. Vemos o rosto (2.14; 5.2,11; 7.6; 8.3) com a boca aberta ao beijo (1,2; 4.3; 8.1); e à voz (2.8,14; 5.2; 8.12), com os lábios frementes (4.3,11; 5.13; 7.10), com a língua (4.11), com os dentes cândidos (4.2; 5.12; 6.6), com o paladar que deseja saborear (5.16; 7.10); e o nariz atraído pelos perfumes (7.9), com as faces 1.10; 4.3; 5.13; 6.7), com os olhos (1.15; 4.11; 5.2,11; 6.5; 7.5; 8.10) que muito se movem e piscam (2.9) ou ternos (4.9), com os cabelos e as tranças (4.1,6; 5.10), com o pescoço harmonioso (1.10; 4.4; 7.5).

Nada mais óbvio do que afirmar que cada detalhe da amada ou do amado não passa despercebido ao verdadeiro amor. Em uma cultura que aprendeu a ditar suas regras estéticas e seus gostos artesanais à moda Michelangelo, o ser (Dasein) desaprende a ver as qualidades intrínsecas da própria fisionomia humana, irretocável. Não importa o formato do nariz, o importante é usá-lo para cheirar os mais preciosos odores do cônjuge. Pouca importância tem a densidade dos lábios, o essencial é saborear aquilo que o amor reservou para os amantes. A cor dos olhos não cativa tanto quanto o seu brilho. Quem ama encontra suas próprias razões para amar, apesar de tudo.

Depois, eis o corpo ereto (2.9; 7.8) que se ergue solene (2.10,13; 3.2; 5.5), que aperta com força o ser amado (3.4), que abraça (2.6; 8.3,6), que dança de júbilo (2.8), mas que também é plantado sobre as pernas e sobre os pés (5.3; 7.2). [2] O corpo é visto em Cantares como um cântaro cheio de surpresas e venturas.

O amor, sentimento difícil de ser descrito em palavras, tem através das imagens corpóreas do Cântico a sua mais elevada expressão e propósito. Se ama verdadeiramente quando se entrega. Tentaram em vão, Orígenes e São Bernardo, explicar as imagens corporais como símbolos da virtude cristã, ou sabedoria e ciência. Pobres teólogos mortais...que se negam a amar e a reconhecer que o amor entre cônjuges é uma dádiva da criação divina!

Observa-se também o esplendor dos seios (1.13; 4.5; 7.4,8,9; 8.8,10), a perfeição dos quadris (7.2), da bacia (7.3), do ventre (5.14; 7.3). Os seios com todo o seu esplendor é o repouso do abraço apaixonado! Um dado muito interessante relata em 7.4: os seios como crias gêmeas da gazela. Nada mais risonho, infantil e dócil. Nego-me a aceitar a interpretação de que os dois seios são as colinas de Ebal e Gerizin. Trata-se da mais eficaz sedução da parte da amada, que desejam os intérpretes reduzir a duas colinas vetustas e de valor espiritualmente simbólico. Ao movimentar freneticamente os quadris, os seios movem-se rapidamente, lembrando ao amado os gamos gêmeos saltitando pelos bosques.

Eis ainda, acima de tudo o coração que, na linguagem bíblica é sinônimo de consciência, inteligência e amor (5.4; 8.6). Nessa luz, o conhecimento recíproco dos enamorados não acontece só através da mente, mas também da paixão, dos sentidos, da ação e da alegria que se completa na plena realização sexual do casal: Meu bem amado põe a mão pela fenda e minhas entranhas estremecem. Não precisamos "abrir o verbo" para não corar os mais tímidos! Os símbolos "mão" e "fenda", desde a Antiguidade representavam os órgãos sexuais masculino e feminino, e no mínimo, aqui, as carícias entre os cônjuges. A destreza do amado é comparada em 5.14 à "mãos de ouro torneadas, cobertas de pedras preciosas". Cântares convida o casal a viver a vida sexual em sua completude, sem receios ou moralismo hipócrita que impede a felicidade dos cônjuges. Viva plenamente!

Perfumes

Cantares é permeado por perfumes (1.3,12ss; 2.13; 3.6; 4.10-11; 5.13; 7.9,14): Nardo (1.12; 4.13), cipreste (1.14; 4.13); bálsamo (2.17; 5.1,13; 6.2; 8.14), essência exótica (6.6; 4.14), incenso (3.6), açafrão, canela e cinamomo (4.14). Existe até mesmo um “monte da mirra”, uma “colina do incenso” (4.6) e os “montes do bálsamo” (8.14). A suavidade do vinho é a comparação mais espontânea para exprimir a embriaguez e doçura do amor (2.4; 4.10; 5.1; 7.3,10; 8.2). Nada melhor do que comparar o amor ao cheiro exótico da canela, que se supõe poderes afrodisíacos! As plantas odoríficas estão plantadas no "jardim fechado", figura que destaca o mistério, o espanto e assombro que é o amor de uma mulher com o seu marido. Ela é um jardim fechado em cujo canteiro estão plantados diversas ervas aromáticas que jamais poderiam crescer juntas. Esse jardim fechado também é um belo e delicioso pomar, cujas frutas saborosas são para a degustação dos amados. É um paraíso de romãs (4.13), um pomar das delícias que só o encontro assombroso entre um homem e uma mulher poderia desfrutar. O jardim das delícias é carregado com o cheiro do amor e dos sentimentos que se perpetuam e se fixam com os odores das plantas. Trata-se, na verdade, de um convite ao amor, comparado a pomares e ervas aromáticas. Um mistério que somente os que amaram intensamente são capazes de revelar.

Objetos Preciosos

A vista e o tato são envolvidos, seja por causa do contato físico entre os dois corpos, seja porque o esplendor do amor é pintado segundo as impressões produzidas por deslumbrantes objetos preciosos: Ouro e prata (1.11; 3.10; 5.11,13,15; 8.9,11,12), pérolas e brincos (1.10,11; 4.9), coroas (3.11), selos (8.6), taças (7.3), madeira nobre do Líbano (3.9); bordados (3.10), púrpura (3.10; 4.3; 7.6), safiras (5.14), marfim cinzelado (5.14; 7.5).

Jardim

Sobre o jardim brilha o sol (1.6; 6.10) e se reflete a lua (6.10). Sucedem-se as auroras e as noites (6.10; 7.12,13), descem as sombras (4.6), sopram o aquilão e o austro (4.16), sopra a brisa (2.17; 4.6), levantam-se colunas de fumaça (3.6), gotejam as chuvas e o orvalho (2.11; 5.2). O jardim “fechado” (4.12) é a figura do “eu feminino”, a “inviolabilidade da pessoa”, um “mistério inatingível contido no corpo da mulher e do seu parceiro”. Salomão salienta que a amada é exclusivamente dele, como um jardim que pertence unicamente ao seu dono, sendo inacessível a todos. Também os poços e fontes eram, às vezes, selados para preservar água, coisa mais do que preciosa no oriente, evitando que outros a tomassem.

Finalmente, só poderíamos terminar com o verso mais célebre dos Cânticos dos Cânticos:

“... azzah kammawet ‘ ahabah..”

“forte como a morte é o amor”.

Notas
[1,2] RAVASI, Gianfranco.
Cântico dos Cânticos: pequeno comentário bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988.
http://teologiaegraca.blogspot.com.br


sexta-feira, 22 de novembro de 2013


ções extraídas da história de Mefibosete

Áudio:

Vídeo:

Mefibosete from Ildo Swartele Mello on Vimeo.

Mefibose nasceu num "berço de ouro" de um "palácio real", pois era neto do Rei Saul, filho do Príncipe Jônatas (2Sam 4.4). Entretanto, uma tragédia se abateu sobre sua vida quando ele tinha apenas 5 anos de idade. Israel foi derrotado em uma sangrenta batalha. A notícia da morte de Saul e de Jônatas chegaram até a casa real; então, a babá de Mefibosete, temendo que o menino também fosse morto, o toma em seus braços e foge correndo, mas, na pressa, acaba tropeçando e deixando o menino cair. Na queda, Mefibosete despedaça os pés e fica aleijado. Agora, ele está órfão de pai e mãe. Perdeu a majestade, perdeu a saúde e vive escondido em um humilde povoado na casa de um bom homem chamado Maquir, que foi quem o amparou, adotando-o como filho.

Tais tragédias são frutos da rebeldia do Rei Saul, que plantou ventos e acabou colhendo tempestades devastadoras para a sua casa e também para todo Reino de Israel. Mas, se por um lado, Mefibosete é afetado pelos erros do avô, ele será futuramente beneficiado pela justiça de seu pai. Tal constatação não serve de base para a afamigerada prática de quebra de maldições hereditárias praticada por muitos pastores e igrejas. Pois o que vemos aqui são as consequências naturais das decisões dos pais respingando sobre os filhos. Acabamos colhendo o que plantamos o que certo grau afetará nossos descendências. Os erros de um Rei não afetam apenas a sua família, mas também acabam afetando todo o seu reino.

Bem diferente de seu pai, o príncipe Jônatas revelou ser um homem justo. Vemos isto na atitude que ele tomou diante do conflito entre seu pai, o Rei Saul, e Davi. Ele não permitiu que os laços familiares e as ambições pessoais interferissem em seu juízo da situação. Ele examinou o conflito com imparcialidade. Jônatas não tomou partido do pai, mas rendeu-se as evidências e saiu em defesa de Davi. Ele também não se deixou dominar pelo ciúme, inveja e ambição pessoal, o que seria de se esperar visto que o aclamado herói nacional Davi era, na época, considerado por muitos como um forte concorrente ao trono de Israel, ao qual, ele, Príncipe Jônatas, era o herdeiro natural. (1 Sm 20.14-16). Tal ato de justiça seria um dia lembrado por Davi, o que beneficiaria seu filho Mefibosete.

Nesta história, existem lições preciosas a serem aprendidas com as atitudes de Davi, Mefibosete e Maquir (2Sm 9).

Lições que aprendemos com Davi:
Davi, por um bom tempo, havia se esquecido da promessa que havia feito a Jonatas (1Sm 20.14-16). Mas antes tarde do que nunca! Portanto, é bom, pelo menos, de vez em quando, a gente se perguntar se não temos nos esquecido de alguma promessa feita a alguém ou de algum compromisso previamente assumido. Davi nos ensina a importância de sermos fiéis à nossa palavra de honra e leais aos nossos acordos, alianças e compromissos. Deus é fiel para conosco e devemos ser leais uns para com os outros (Pv 18.24).

Ele buscou uma oportunidade para fazer o bem. Ele não se contenta apenas em fazer justiça a promessa feita, mas ele quer ir além, ele deseja agir com bondade (9.3). Os homens Bons deveriam buscar oportunidades de fazer o bem, como diz as Escrituras: “o nobre faz planos nobres, (Is 32.8). E se Deus nos coloca em posição de ajudar e socorrer, não devemos perder a oportunidade e, mais que isto, devemos buscar oportunidade de exercer atos de bondade. É na adversidade que se conhece quem são os amigos (Jó 6.13-15). A verdadeira amizade é generosa!

Davi não é vingativo, pois Saul havia sido o seu maior inimigo. Ele mostra bondade para com a casa de Saul. Os reis costumavam eliminar os descendentes de uma linhagem real que poderiam reivindicar o Reino (Jz 9.5 e 2 Cr 22.10). Davi ensina a pagar o mal com o bem (Rm 12.21; 1Pe 3.9). Davi tem o cuidado de dizer a Mefibosete: “Não tenha medo” (v.7). Grandes homens, como Davi, não tem prazer em ver alguém numa posição de inferioridade e medo. As palavras e ações de Davi produziram encorajamento, honra e igualdade a ponto de tratar Mefibosete como parte de sua própria família!
Lições que aprendemos com Mefibosete:
Ele é um Tipo do Pecador Resgatado. Pertencia originalmente a uma linhagem real (2Sm 4:4), que caiu em desgraça por causa dos pecados do seu antepassado. Saul tinha uma família muito numerosa (1Cr 8.33), mas os atos de desobediência e rebeldia de Saul produziram um resultado devastador, o que levou Davi a perguntar se ainda existia algum sobrevivente da família (2Sm 21.1).

Vivendo em exílio, pobre e deficiente, foi lembrado por causa de uma Aliança (2Sm 9:3,4; 1Sm 20:14,15). Chamado a estar na presença do Rei, foi exaltado por causa dos méritos de outro (2Sm 9:5,7) e recebe uma herança gloriosa (2Sm 9:9).

Mefibosete aceita a bondade com grande humildade. Ele não é daqueles que recebem cada favor como se estivessem recebendo o pagamento de uma dívida. Humildemente, se prostra diante do Rei e não faz nenhuma reivindicação na base de qualquer pretenso direito. Ele não estava clamando: "Restitui, eu quero de volta o que é meu!" Pelo contrário, Mefibosete fica admirado com a demonstração de bondade de Davi para alguém como ele, que se sentia tão insignificante. Ao se comparar com um cachorro morto, Mefibosete nos faz lembrar da atitude daquela mulher que, humildemente, disse para Jesus que os cachorrinhos comiam das migalhas que caíam da mesa dos filhos (Mc 7.28). Lembrar também que, no passado, o próprio Davi havia se prostrado diante de Jonatas (1Sm 20.41). Quando jovem, Davi não se considerava digno sequer de ser genro do rei (1Sm 18.18). “Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado!” (Lc 14.11). “Certamente, ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” (Pv 3:34 e Tg 4.6).

Tem gente que parece ter nascido com o rei na barriga, pois são pretensiosas, orgulhosas e arrogantes. Acreditam que o mundo lhes deve. São do tipo que dizem: "Eu não vou comer esta porcaria de comida!"; "Ninguém merece!"; "Eu não pedi pra nascer!" e tantas outras coisas da mesma natureza. Já, Mefibosete, mesmo tendo nascido em família real, agiu com muita humildade e nada reivindicou na base de um senso de direito. De maneira semelhante, a agraciada Maria, que literalmente carregava o Grande Rei em sua barriga, jamais agiu com presunção. Muita gente, no lugar dela, jamais teria aceitado dar a luz a seu bendito filho num lugar tão inóspito como um curral. Maria não ralhou com José, dizendo: "Como você tem coragem de me oferecer este lugar tão nojento assim para eu dar a luz? Você é um imprestável, mesmo! Onde eu estava com a cabeça quando me casei com você?" Não, mil vezes não! Maria jamais diria isto a José. Ela era humilde, paciente e compreensiva. Recebeu tudo como uma dádiva de Deus numa atitude de ações de graças!

Durante a ausência do Rei Davi, Mefibosete viveu uma vida de abnegação (2 Sm 19:24) e também sofreu perseguição e difamação (2Sm 16:3; 19:27). Ele era humilde e não ambicionava grandes coisas materiais (2Sm 19:30).
Lição que aprendemos com Maquir:
Maquir havia acolhido o pobre Mefibosete em sua própria casa por anos. Davi e o próprio Mefibosete o recompensará por isto. “Não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo ceifaremos se não desfalecermos” (Gl 6.9 ver também Ec 11.2 e Pv 11.25)

Por que é necessária a exortação "não nos cansemos"? Por que as palavras perseverança e paciência aparecem repetidas diversas vezes no novo testamento? "Fazer o bem" nem sempre é fácil. As vezes fazemos o bem e recebemos o mal em troca. Algumas vezes, parece que não compensa fazer o bem. Somos tentados a desistir, pensando que isto é coisa de tolos. Por isto a exortação se faz necessária. "A seu tempo ceifaremos" e não necessariamente "no nosso tempo". São necessárias a paciência e a perseverança para evitar o desânimo, principalmente por vivermos num tempo marcado por muita ansiedade e imediatismo. Maquir foi perseverante em fazer o bem e, muito tempo depois, ele foi imensamente recompensado!

Bispo Ildo Mello

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

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“Nenhum homem sabe quanto é mau até que tenta ser bom. Muitos defendem a tola ideia de que pessoas boas não sabem o que significa a tentação”. C. S. Lewis

Você está prestes a penetrar no território de seu pior inimigo. Enquanto caminha entre as hostes inimigas, ficará chocado ao descobrir qual é a maior arma dele contra seu desejo de viver em santidade.
Qual é a principal estratégia do inimigo para levar as pessoas ao pecado?
É uma palavra de oito letras: “Tentação”.Se você conseguir anular a habilidade do inimigo em usar a tentação em sua vida, ele ficará imediatamente impotente.
Pense um instante sobre como as tentações operam realmente. Como uma pessoa como você, nascida de novo e que ama aos Senhor, passa de santa a profana?
Qual é o passo inicial ou a estratégia que leva o cristão da santidade à impureza, da obediência à desobediência e da justiça à iniquidade?


Como você logo descobrirá, a mesma estratégia de tentação é utilizada milhões e milhões de vezes ao dia contra as massas – que não suspeitam de nada.

Essa estratégia funciona?

Bem, na maioria das vezes, uma tentação ou uma série de tentações estrategicamente posicionada é tudo de que se precisa para derrubar uma pessoa que caminha em santidade.
Na última vez em que você “caiu” em pecado, na verdade foi“empurrado” pela mesma mão da tentação que sempre “empurra” ou “puxa” você em direção ao pecado.

Incentivo

Outra palavra que pode descrever a tentação é o “incentivo”.  Teologia de qualidade – Clique aqui.
 Um incentivo é algo que motiva ou incita o indivíduo a fazer algo.
No mundo empresarial, o incentivo é amplamente utilizado. Por exemplo, quando você entra numa loja e há duas bebidas de marcas diferentes sendo vendidas e uma delas faz a promoção:“Compre uma garrafa e leve grátis!”, a que você é levado (ou tentado) a fazer?

Se seu chefe anuncia que naquela semana há um excesso inesperado de produtos “vermelhos” e que haverá um bônus para cada produto desta linha que for vendido, quando você entra em contato com seus clientes, acha que deixaria de promover os produtos da linha“vermelha”?
Como pai, você encoraja seus filhos a arrumar o quarto e tirar melhores notas na escola com algum tipo de recompensa ou incentivo.
O incentivo é errado?Não, se ele incentiva que um comportamento correto seja feito de forma correta.
Quando você lê a Bíblia não pode deixar de perceber que o próprio Deus utiliza o incentivo com frequência para motivar.

O incentivo, porém, pode ser usado não somente para fins benéficos mas também maléficos.

Sabe como a Bíblia define um mau incentivo? Tentação.
O propósito primário de toda tentação é motivar o indivíduo a pecar. Diferente dos bons incentivos, os maus incentivos usam o engano e a manipulação para nos motivar ao pecado.
Você acha que seu inimigo o avisa formalmente de que vai enviar uma tentação nesta tarde, às 3h13, e que, se você for tolo e cair nela, arruinará sua reputação, sua família, seus filhos e seu trabalho?
Pense em como seria bom que você entendesse todo o processo da tentação. Quanto mais você compreende a verdade sobre a tentação e aprende a discernir os estágios da tentação pela qual está passando, mais livre será para quebrar imediatamente seu poder e permanecer na santidade.

A passagem-chave sobre tentação

Quando você desejar extrair uma verdade da Palavra de Deus, comece buscando uma “passagem-chave” que contenha a verdade mais ampla sobre o assunto.
Estude-a para desvendar seus segredos. Quando estudamos sobre a tentação, a passagem-chave bíblica é 1 Coríntios 10.
Leia os versículos 12 e 13 atentamente, antes de ver as sete verdades sobre tentação e sua aplicação: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” (ARC)
1. A tentação é a razão primária para desejarmos pecar

O elo é claro: a “queda” no pecado sempre é precedida pela tentação, que “vence você”. A tentação é sempre a motivação para o pecado.
Se não existisse tentação, você não teria motivação para cometer pecados. Diante de todo pecado que cometemos esconde-se a tentação.

Quando você abre as primeiras páginas da Bíblia, o que encontra satanás fazendo?

Tentando Adão e Eva, induzindo-os a desobedecer às instruções de Deus para não comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Note a tentação sutil ou o incentivo que ele usou contra Eva:
“É certo que não morrereis” – Satanás incentiva Eva a duvidar da advertência clara de Deus: não deviam comer, porque senão morreriam. E outras palavras, a tentação tem de negar a verdade conhecida que se opõe ao pecado, ou este não será cometido. Se Eva não caísse na tentação de duvidar que a morte realmente se abateria sobre ela, talvez nunca tivesse cedido às outras tentações.
A tentação sempre minimiza os perigos reais e maximiza os benefícios imaginários.

“Se vos abrirão os olhos” – Satanás sutilmente dá a entender que os olhos deles estavam fechados e como seria maravilhoso abri-lo! Por falar nisso, quem mantinha os olhos deles “fechados”, em primeiro lugar?
Que ataque sutil ao caráter de Deus, insinuando que ele deliberadamente os mantinha cegos! Ligue esta segunda tentação para duvidar do caráter de Deus à primeira, para duvidar de sua palavra.

A tentação sempre gera a dúvida sobre a palavra e o caráter de Deus.

“Sereis como Deus” – Satanás incita a imaginação de Eva com o pensamento de se tornar “semelhante a Deus”.
O que poderia ser mais excitante do que ser “como” Deus?
Neste ponto, a tentação dá um passo ousado.
Naquele momento, Adão e Eva eram mais “semelhantes a Deus” do que qualquer outra criatura em todo o universo, e por toda a eternidade! Foram criados por Deus, de forma sobrenatural, à sua imagem e semelhança!
Eles já eram “como Deus”!Entretanto, ao comerem o fruto, escolheram tornar-se o mais “diferente de Deus”possível! Então, qual era o método para ser “igual a Deus”?
Pense nisto – o meio que Satanás propôs para serem iguais a Deus era fazer justamente o oposto do que Deus lhes dissera!
Somente escolhendo desobedecer a Deus, eles seriam “como Deus”. A base da mentira da tentação é grandiosa.

Cada tentação individual baseia-se em pelo menos uma grande mentira, a qual é apresentada como a resposta aos anseios da pessoa.

“Sereis conhecedores do bem e do mal” – Satanás sabe o que representa para o ser humano a tentação do “conhecimento proibido”.
O que poderia ter mais poder do que conhecimentos secretos?
Com esta tentação é enganadora! Adão e Eva já tinham a plenitude do conhecimento do “bem”: estavam no jardim do Éden, andando com o Deus Todo-Poderoso! Por que desejariam “conhecer” o mal, já que este nunca promove o bem e sempre o destrói?

Toda a vida gira em torno da busca do “bem”; então, por que nos afastar dele, escolhendo aquilo que destrói o “bem”.
Aqui o tentador usa o desejo ou a “cobiça” de algo totalmente fora dos limites estabelecidos para o homem. O homem não foi criado para romper a cerca de segurança que o separa do bem e do mal.
O Senhor providenciou uma abundância de bem e o protegeu com a ausência do mal. Escolhendo saber aquilo que Deus deliberadamente estava retendo, Adão e Eva caíram no mesmo pecado do próprio Satanás, o desejo de independência e de subverter os limites da soberania divina.

A tentação sempre incita a cobiça de se conhecer e experimentar o“mal” proibido por Deus, na falsa busca daquilo que é “bom”!

Por que Satanás utilizou essas tentações?

Porque sem a tentação ou a motivação, por que Adão e Eva considerariam a possibilidade de desobedecer a Deus?
Você percebe o papel crucial da tentação em nossa vida?
Sem ela, qual seria nossa motivação para escolher o pecado?
De modo semelhante, considere o que Satanás fez ao procurar derrotar Jesus: ofereceu três tentações poderosas. Note como Jesus repreendeu e revelou a natureza de seu ataque: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.

Nunca mais perca de vista a estratégia usada por Satanás em sua vida. Todo pecado que você comete sempre é precedido por uma “tentação” na qual você acreditou, sentiu motivação e então agiu de acordo, desobedecendo a Deus e pecando voluntariamente.

2. A tentação é mais perigosa quando você acha que não cairá

1 Coríntios 10:12 começa com uma forte advertência sobre tentação: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”.
Talvez este alerta seja colocado em primeiro lugar porque revela o oposto do que as pessoas “normalmente”pensam sobre as tentações.
O que é melhor: pensar que não pode cair em pecado ou pensar que pode cair?
Quanto mais forte você pensa ou sente que é, usando frases como: “Nunca cometerei este pecado!”, “Jamais poderei fazer isso!”, “Como aquela pessoa pôde fazer aquilo?” ou“Sinto-me tão perto do Senhor que acho que hoje não pecarei”, são sinalizadores gigantes e sirenes gritando, avisando do perigo iminente.

Por que não devemos nos sentir fortes e poderosos diante de alguma tentação?

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16:18).
Quando achamos que não podemos cair, o orgulho impera. Quando o orgulho impera, a destruição vem logo atrás.
Sempre que vemos a arrogância, seja explícita, seja cuidadosamente escondida, podemos ter certeza de que em breve haverá uma “queda”.

Quais são a atitude e a ação corretas em face da tentação que nos levam à vitória e não à destruição, para uma posição firme e não à queda?

Os versículos abaixo revelam que a resposta é vigilância, oração e dependência ativa do Senhor. “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus 26:41; “Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação.” Lucas 22:40; “O Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia do Juízo.” 2 Pedro 2:9
Nosso foco sempre deve ser nossa fraqueza e o poder de Deus. Ore diariamente para que o Senhor o livre das tentações. Se elas vierem, que ele lhe dê forças para superá-las.

3. A tentação busca vencer você

A tentação não é inativa, mas ativa. Ela não foge de você – procura “vencer” você. Experimentar uma tentação é sentir-se “vencido”: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia. Não veio sobre vós tentação...”
Mesmo nas atividades mais espirituais, as tentações podem adiantar-se e envolver você com poder e persistência. As palavras usadas por Paulo, “veio sobre”, dá ideia de alguém vindo sobre você rápida e inesperadamente, como um inimigo.
Paulo ensina que a tentação é ativa e tem uma realidade quase independente. Ela sobrevém – se abate, assalta e prende – e tenta nos pressionar até que pequemos.
Você pode notar, em todas as tentações descritas na Bíblia, bem como em sua própria experiência, que quando você cede, ela deixa de existir. A tentação só existe de um lado do pecado: antes de ele acontecer!

A tentação vem antes de todo pecado. Se você derrotar a tentação, não cometerá o pecado!

4. A tentação que você experimenta nunca é única, mas é sempre comum

Sem exceção, se você pecou repetidamente em determinada área, sempre conclui que as tentações não são do tamanho “normal”, mas realmente incomuns e mais fortes, Entretanto, qual é a verdade sobre elas? “Nenhuma tentação se abateu sobre você, exceto aquelas que são comuns a todos os homens.”

Depois de uma reunião em que falei sobre santidade pessoal para um grupo de homens, um jovem me procurou, obviamente por convicção. Compartilhou que desejava grandes mudanças em sua vida, mas enfrentava dificuldades. Logo revelou que vivia com uma mulher e que tinha vivido com muitas outras nos últimos dez anos. Perguntei porque não parava com seu estilo de vida imoral e profano. Ele respondeu que desejava, mas não tinha forças diante das tentações sexuais.
Olhei para ele e disse:
- Puxa, seu apetite sexual deve ser realmente forte!
Ele respondeu imediatamente:
- Bem... fico feliz que você entenda. Meu apetite sexual é tão poderoso que a tentação torna-se forte demais.
Assenti e disse:
- Provavelmente seu apetite é muito maior do que o dos homens normais.
Ele enrubesceu de vergonha por ter sido descoberto e fez um sinal de assentimento. Finalmente parecia que encontrara alguém que o compreendia – seu pecado não era de fato sua culpa –eram aquelas tentações gigantescas que o atacavam.
Perguntei se faria alguma diferença para ele se as tentações sobreviessem num tamanho normal.

- Puxa! Eu faria qualquer coisa para ter tentações normais. Finalmente seria capaz de dizer “não” e parar.
Olhei ao redor e percebi que a sala estava ficando vazia rapidamente, pois os homens estavam voltando ao trabalho. Continuei:
- Então, se suas tentações fossem iguais às de Chuck, Bob, Forest e dos demais homens, o que você faria?
Ele perguntou de imediato:
- Como assim, o que eu faria? Em relação a quê?

- Em relação a continuar com seu estilo de vida imoral e pecaminoso. Você obedeceria ao Senhor e se afastaria desse tipo de vida? É claro, só no caso de suas tentações sexuais serem do tamanho “normal”, como as de todo mundo.
Aquilo lhe soou bem, de maneira que assentiu deliberada e alegremente. Era óbvio que ele sabia a resposta. Ninguém podia resolver seu problema. Por que se preocupar?
Então, pedi que lesse 1 Coríntios 10:13 em voz alta: “Não veio sobre vós tentação, senão humana...”
Foi um choque para ele ter de reconhecer que suas tentações eram absolutamente normais e não eram diferentes das várias tentações que assolam a vida de todo homem.

Ele tinha acreditado na mentira: “Sou impotente diante do tipo de tentação que enfrento, e que ninguém mais enfrenta. Se minha tentação fosse ‘comum’, certamente eu poderia resistir”. Apontei para outros homens que ainda permaneciam na sala e lhe disse:
- Eles enfrentam exatamente as mesmas tentações que você – só que eles dizem “não”, enquanto você diz “sim”.
Nos momentos seguintes, presenciei a luta daquele jovem contra a trágica mentira em que sempre acreditara.

Essa mentira o tinha enterrado sob o grande peso do auto-engano paralisante. Quando a mentira foi confrontada pela luz da Bíblia, caiu impotente a seus pés. Com lágrimas nos olhos, ele repetia:
- Minhas tentações não são diferentes. Fui enganado. Vou me libertar hoje. Vou dizer não às minhas tentações sexuais. Vou sair daqui... e caminhar em santidade.
A verdade sempre os liberta; a mentira sempre nos prende em amarras. Se você está preso a um pecado, é somente porque acreditou numa mentira.

Independentemente de sua opinião a respeito das tentações que enfrenta – sobretudo aquelas que o levam a pecar repetidamente –, a Bíblia ensina que elas não são em nada diferentes das que todas as outras pessoas enfrentam. Pense nas mentiras que dizemos a nós mesmos:

• “A tentação foi muito forte; não pude fazer nada!”
• “Sou diferente, ninguém enfrenta tentações como as minhas!”
• “Faz parte de minha herança familiar –meus ‘genes’ me obrigam a agir assim!”
• “Sempre fiz isto – é tarde demais para parar agora.”
• “O diabo me obrigou a fazer aquilo.”
• “Não me preocupo com as tentações; sou forte.”
• “Não é minha culpa; fui tentado além de minhas forças.”
• “Orei sobre a tentação, mas não consegui parar.”
• “É culpa de Deus; ele sabia que eu era fraco demais.”
• “Deixe para lá – ninguém é perfeito.”

Se você lê com atenção nosso versículo-chave (1 Co 10:13), logo notará que a ideia é: “Não veio sobre vós tentação exceto aquela que é humana”.
O texto não somente ensina que não existe tentação “incomum” com acrescenta uma verdade mais profunda – a tentação que nos sobrevém é especialmente “comum”! Quando você pecar, lembre que a tentação só pode ser tipo comum.

O sentido literal de “humana”,neste versículo é “comum a todos os homens”. Toda tentação é normal e, portanto, totalmente resistível. Como, então, podemos explicar como “nos sentimos”quando formos assaltados por tentações “incomuns”? Talvez um pequeno cão possa terá resposta.

Quando o engano da tentação vem à luz, ela perde seu poder. A verdade sempre nos liberta.

Levante a cortina que cerca sua tentação e descobrirá duas verdades: primeira, sua tentação é do tipo comum, que cresce como mato pela paisagem humana; segunda, sua tentação é cheia de ar quente e desaparecerá no ar, quando você simplesmente disser “não”.

5. Deus é fiel e não permite que você seja tentado além de suas forças

Todas as vezes que você acha que Deus não está por perto, certamente, dizem respeito aos momentos em que é tentado a pecar!
A Bíblia, porém, revela que o Senhor está diretamente envolvido em toda tentação. Ele não as envia, mas se certifica de que você pode suportá-las sem ceder a elas. “Fiel é Deus”, o texto afirma, “que vos não deixará tentar acima do que podeis”.
As palavras de Paulo proporcionam um encorajamento maravilhoso e garantem a esperança diante das tentações. Em vez de nos sentirmos “impotentes” nas tentações, 1 Coríntios 10:12,13 nos assegura de que somos “auxiliados” em toda tentação. Auxiliados pelo próprio Senhor Deus do universo.

Certifique-se de que esta verdade está bem arraigada em sua mente. Em vez de evitá-lo quando você está diante da tentação, o Senhor se aproxima de você para protegê-lo e ajudá-lo. Ele está a seu lado, no meio da batalha, assegurando que você não está sendo forçado a se submeter a nenhum tentação. O princípio anterior deixou claro que toda tentação que você enfrenta é “comum” ou natural a todos os homens. Esse princípio muda o foco, passando da “tentação” para aquele que está sendo“tentado”.

Embora toda tentação seja comum,as pessoas são bem diferentes umas das outras. Por exemplo, um indivíduo pode ser tentado pela gula, outro pela pornografia, outro pela fofoca e outro pela ira.
O que representa uma tentação a uma pessoa pode não ser para outra. Por exemplo, digamos que você e um amigo vão ao supermercado juntos. Você é tentado pela gula, por isso trava uma luta nas gôndolas de doces, enquanto seu amigo enfrenta um conflito diante das prateleiras de revistas. Será que você enfrentará a mesma luta diante das revistas? Provavelmente não. Diferentes tentações tentam diferentes tipos de pessoas.

Portanto, posso enfrentar tentações que são comuns, mas, por ser extremamente fraco em certa área, posso ceder e cair numa área em que você não cai. Neste versículo (1 Co 10:13) o Senhor deixa clara a verdade sobre seu papel, protegendo pessoalmente você das tentações que podem estar além de suas forças: Deus não permitirá que você seja tentado além daquilo que pode suportar individualmente.

Portanto, o Senhor coloca um regulador divino nas tentações, de acordo com sua capacidade única de lidar com uma tentação específica. Imagine isso! Pense no que isso significa, como o Senhor está intimamente comprometido com você e sua vitória sobre as tentações! Nunca mais aceite a mentira de que Deus fica zangado ou se afasta quando você está diante de tentações. Na verdade, ele se envolve pessoalmente nas tentações. Deus desenha uma linha e ordena que a tentação chegue até ali, mas não ultrapasse.

Por que o Senhor estabelece essa linha, para você e para mim? Porque, se não o fizesse, certas tentações literalmente nos subjugariam, e não seríamos capazes de dizer “não”. Em sua sabedoria e onisciência, o Senhor estabelece o limite a toda tentação abaixo de nossa capacidade de resistir e evitar o pecado. Portanto, em sua vida passada, presente ou futura, o Senhor jamais permitirá que enfrente uma tentação que não tenha condições de resistir.

Na tarde em que escrevia este capítulo, fiz uma pausa e saí para caminhar pela vizinhança, com minha esposa, Darlene. Enquanto andávamos, passamos por um grande carvalho, que se elevava muito além de nossas cabeças. Ficamos maravilhados com a força e a majestade daquela árvore, como tinha resistido durante décadas a tempestades e ventos. Perguntei a Darlene se ela achava que alguma tempestade pudesse derrubar o grande carvalho. Ela disse que sim, pensando naqueles tornados incrivelmente poderosos, que destroem tudo o que encontram no caminho.

Será que existe alguma “tentação tornado” capaz de literalmente derrubar você, destruindo seu forte compromisso com a santidade? Não.

O Senhor nos protege e limita o poder de toda tentação. Embora Satanás possa facilmente nos forçar a pecar, o Senhor limita sua liberdade para nos empurrar além da “linha vermelha”, quando enfrentamos tentações.
Por que acha que o Senhor intervém em seu favor centenas – talvez milhares – de vezes durante sua vida?

Há três palavras em nosso texto que respondem a essa pergunta:
“Deus é fiel”. Fidelidade significa permanecer firme, na afeição e na lealdade e permanecer firme em manter as promessas feitas no relacionamento.
A fidelidade inclui lealdade, constância e firme resistência a tudo aquilo que possa resultar em traição e deserção.
Em que sentido Deus é fiel, neste contexto?
Deus é fiel a você.
Ele é fiel à sua Palavra.
Ele é fiel a seus propósitos.
Fiel às suas promessas.

Ele é fiel à justiça. Será que Deus seria fiel se ordenasse que você fosse “santo em todo o seu procedimento” e ao mesmo tempo permitisse que as tentações forçassem você a pecar, apesar de você fazer tudo o que estivesse a seu alcance para evitar o pecado?

Dependa totalmente dos limites soberanos impostos a suas tentações, pois o Senhor é inabalavelmente fiel.
Entretanto, o que acontece quando nós somos infiéis repetidas vezes e escolhemos pecar quando tentados?
Obviamente o Senhor deve ter um limite para sua fidelidade, dependendo do quanto somos “fiéis” a ele, certo?
Em outras palavra, a fidelidade de Deus tem limites? Leia 2 Timóteo 2:13: “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”.

Portanto, a verdade sobre sua tentação é que o Senhor Deus nunca o deixará ou abandonará diante das tentações. Ele sempre – em todas as circunstâncias e todas as vezes – limita soberanamente as tentações, para que nunca ultrapassem sua capacidade de dizer“não”.
Não é de admirar que Deus nos diga para “sermos santos em todo o nosso procedimento” – ele já providenciou tudo do que precisamos e limitou tudo o que não precisamos.
Algumas implicações vêm imediatamente à tona com esta verdade:

Primeiro, Deus limita as tentações que enfrento de acordo com minha capacidade e não a de outrem.

Deus não limita minhas tentações de acordo com as forças dos outros cristãos, mas com as minhas.
Independentemente do que seja verdade em relação às tentações dos outros, você sempre tem a certeza de que o Senhor tem a atenção voltada a você e sua capacidade.
Ele limita soberanamente suas tentações, tendo apenas você em mente. Quer dizer que se você e um amigo enfrentam uma tentação grande e inesperada, o Senhor a limitará de forma diferente para cada um.

A mesma tentação é limitada pelo Senhor, de acordo com as diferentes habilidades de cada indivíduo.

Segundo, Deus limita a tentação, mas, não aumenta necessariamente nossa força.
Imagine que está diante de um haltere de 200 quilos e tenta levantá-lo com todas as suas forças, mas não consegue.

O que o Senhor faz? Aumenta sua musculatura, por meio de um milagre? Não. A Bíblia não ensina (em 1 Co 10:13) que “o Senhor é fiel e aumentará sua capacidade, para que seja capaz de superar a tentação”. Ela diz que “Deus é fiel e não permitirá que você seja tentado além de suas forças”.
Deus o capacita a obedecer-lhe tirando pesos do haltere, até chegar a um peso que sabe que você tem condições de levantar. Ele não aumenta sua força. Portanto, nunca espere que o Senhor o fortaleça milagrosamente, mas sim que ele limite o peso das tentações.

Depois que você se afasta, outra pessoa se aproxima do mesmo haltere. Sabe o que o Senhor faz por ela?

Terceiro, Deus limita as tentações de acordo com minhas habilidades em diferentes situações.
Além de sua habilidade de superar tentações ser diferente da de outros indivíduos, ela muda de acordo com o que acontece em sua vida.
Digamos que alguém próximo a você morreu, você teve sérios problemas financeiros e esteve doente por um logo período. Você diria que numa situação dessa, sua capacidade de resistir a tentações seria tão forte como é normalmente?
É claro que não. Assim, sabe o que o Senhor faz?

Uma vez que sua capacidade de resistir está bem reduzida, o Senhor limita ainda mais as tentações. Qualquer que seja sua capacidade de resistir, em determinado momento de sua vida, é ela que define o limite que Deus estabelecerá sobre a tentação.
Não sei como você se sente em relação ao Senhor, ao compreender sua tremenda fidelidade a você.
A compaixão e a graça que Deus manifesta para comigo me deixam literalmente maravilhado. Por isso o Senhor pode ordenar que sejamos santos em todo o nosso procedimento. Ele assegura que sejamos capazes!

6. A tentação sempre é acompanhada por um livramento providenciado por Deus

De todas as revelações notáveis contidas nesses dois versículos, nenhuma toca mais do que esta provisão divina:“Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes com a tentação dará também o escape...”
Depois de considerar a primeira provisão de Deus, você pode sentir-se com eu: o que mais Deus poderia fazer, além do que já fez? Entretanto, quando você medita neste princípio que estamos vendo, talvez se sinta maravilhado por esta segunda ação.
A primeira ação de Deus em face da tentação é a limitação: Ele não permite que você seja tentado além de sua capacidade de suportar. A segunda ação de Deus em face da tentação é a provisão: Ele providencia o meio de livramento.
A fidelidade de Deus para conosco o estimula a tomar duas atitudes diferentes.

Primeiro, não permite que nenhuma tentação supere nossa capacidade de resistir; segundo, nos providencia o livramento, para que possamos escapar da tentação sem pecar.
Diante da tentação, o Senhor diz “não!” para ela e “sim!” para você. Seu propósito supremo é sua vitória total e completa sobre toda tentação, sem cair no menor pecado.

Assim como ocorreu com Cristo, em toda a sua vida, todos nós experimentamos inúmeras tentações.
Como Cristo, somos chamados a resistir às tentações e ser “sem pecado”.
“Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisa, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4:15).
Jesus foi tentado da mesma maneira que nós somos, mas sempre disse “não”. Sempre escolheu o livramento de Deus.

Estude essas palavras com atenção: “Antes, com a tentação, dará também o escape...”.

A introdução “antes” leva a um contraste inesperado com o comentário anterior. Deus limita nossas tentações, mas também proporciona o livramento. O fato de a tentação ser limitada não significa que podemos nos livrar dela. O que aconteceria se todas as rotas de fuga fossem bloqueadas por nosso perverso inimigo?

Pergunta: Com que frequência Deus providencia o livramento?
Resposta: Com cada tentação, Deus providencia o livramento.
Em outras palavras, um novo livramento é elaborado por Deus “com a tentação” que você enfrenta.

Livramentos passados, que funcionaram em outras situações, não serão de nenhuma ajuda quando você está acuado à beira do abismo.

Cada tentação é diferente, e por isso o livramento também tem de ser diferente. Deus não “encontra” um livramento para você; ele “elabora” um livramento.

Quer dizer, quando a tentação tenta derrubá-lo, Deus, em sua soberania, inventa e depois cria uma “rota de fuga segura” para que você escape.
Se você ainda duvida se o texto fala de um livramento literal, leia novamente e note que a Bíblia utiliza artigo definido antes de “escape” e não o indefinido.

O versículo não deixa uma ideia vaga, que junto “com a tentação” talvez haja um escape, mas diz que “com a tentação” haverá também “o escape”.
A rota de fuga é providenciada por Deus de forma sobrenatural, para sua tentação natural. Deus intervém na tentação e providencia pessoalmente “o escape”.
A palavra “escape” dá a ideia de uma passagem secreta entre as montanhas. Imagine um exército emboscado entre as montanhas, sem nenhuma rota de fuga; subitamente encontram uma passagem estreita e todo o exército foge por ela, sem nenhum dano.
Veja como o apóstolo Pedro descreveu o ensinamento de Paulo: “Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos...” (2 Pe 2:9, ARA).
A aplicação prática literalmente salta sobre nós. Quanto Deus é fiel a nós diante das tentações?

Totalmente fiel. Ele limita e providencia. Não permite que a tentação prevaleça, mas intervém providenciando um livramento único e original.
Quanto mais a verdade sobre a tentação torna-se clara em seu coração, mais o mandamento “tornai-vos santos... em todo o vosso procedimento” mostra-se absolutamente realista.

7. A tentação não pode ir além do que você pode suportar

Esse princípio final demonstra o coração de Deus em seu envolvimento em nossas tentações.
Ele busca uma Igreja santa e por isso possibilita a santidade em todas as situações imagináveis. Como você já viu, o Senhor limita e providencia, capacitando você a “suportar”. “Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (ARC).

A maior mentira relacionada à tentação é: “Não posso dizer ‘não’ a esta tentação, não importa quanto me esforce”.
Você sabe que isso não pode ser verdade, do contrário o Senhor seria totalmente infiel. Nunca mais aceite esta mentira que derrota, porque no momento em que você a acalenta, mesmo por um segundo, já começa a escorregar em direção do pecado.
Como você já entendeu, a Bíblia ensina abertamente que, seja qual for a tentação, você sempre será capaz de suportá-la sem ser forçado a pecar. Não quer dizer que sempre será fácil permanecer firme – nem sempre será.
Jesus encarou a mais difícil de todas as tentações. Note o nível de sua luta: “Considerai, pois, atentamente, aquele [Jesus] que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo... na nossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue” (Hb 12:3,4).
Talvez em algum momento de sua vida você enfrente tentações tão ferozes que terá de “resistir até ao sangue”.Se isso acontecer, lembre-se de que o Senhor não permitirá que a tentação vá além do que você pode suportar.

Sempre há o livramento, mas o Senhor pode não revelá-lo rapidamente, ou mesmo quando você pede. Em muitos casos, o livramento está bem diante de nós – como “foge das paixões”, o que significa que o livramento está nos pés, movendo-nos na direção oposta! Outras vezes, porém, o livramento exige “resistência” total mesmo até a morte física. A verdade fundamental é que o mais importante é permanecer firme contra a tentação ao pecado. Mesmo que isso signifique a morte. O “livramento” para muitos cristãos que sofrem martírio em toda a história, e mesmo atualmente, foi permanecer firme diante da tentação mais ameaçadora, com risco da própria vida.

Embora muitos tenham sacrificado a vida, outros que conheciam a Cristo e seu chamado correram para as trevas, negando o Senhor que os redimira, apara salvar a própria vida. Você sabe qual foi a mentira que ouviram e abraçaram?

“Não posso resistir – é difícil demais”. Meu amigo, mesmo a morte não é difícil demais, porque o Senhor jamais permitirá que alguma tentação exceda sua capacidade de resistir sem pecar. Aqueles que cedem o fazem somente porque acreditaram na mentira.

Enquanto você está sendo tentado, sempre é capaz de resistir –permanecendo santo em todo o seu procedimento.
Blog: IBA

Fonte: SANTIDADE PESSOAL EM TEMPOS DE TENTAÇÃO, Bruce H. Wilkinson - São Paulo: Mundo Cristão, 2002