quarta-feira, 13 de maio de 2015

Prioridade: O Reino de Deus


Romanos 15 – Prioridade: O Reino de Deus
Mensagens em Romanos – Igreja Batista Central de Cascavel (10/05/2015 – Domingo/Noite)
Romanos 15.23-33

Introdução
Graça e paz Irmãos, antes de tudo, eu gostaria de expressar a profunda admiração que sinto pelo Apóstolo Paulo, a meu ver, depois de Jesus, Paulo é a personagem mais fascinante da Bíblia. Paulo Respirava o Evangelho, vivia Missões e sua mente estava tão somente voltada para Reino de Deus. Sua missão era, pregar Jesus Cristo e o que ELE fez em sua vida. Pensando e meditando em Romanos 15, veio em minha mente a seguinte questão:

·         Qual deve ser a prioridade em nossas vidas?

Muitas vezes esta pergunta pode ter uma resposta simples: “Família e Emprego”. Alguém poderia acrescentar “igreja”, mas basicamente as pessoas poderiam pensar em coisas que ainda precisam ser resolvidas para que a próxima etapa da vida aconteça. Pensamos com frequência: “Assim que terminarmos isto que estou fazendo agora, vou poder me dedicar a fazer outras coisas”, contudo geralmente a fazer coisas que gostamos.

Mas a grande pergunta que devemos nos fazer é, e Deus? E as coisas de Deus? Onde se encaixam em nossas vidas? E a cooperação com o Reino de Deus? Em nossos corações estamos deixando espaço para o Reino de Deus? Ou queremos apenas realizar as nossas próprias vontades?

Para o apóstolo Paulo, o Reino de Deus era prioridade, escreveu ele aos Corintos: 16 ... quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho!... Por isso, 23 Faço todas as coisas por causa do evangelho, para ser co-participante dele” (1 Co 9.16, 23).

Antes de estudarmos o texto, vamos ao contexto de Romanos 15. Podemos dizer que este capítulo possui três assuntos mais importantes e por isso pode ser dividido assim:
1. O Cristão precisa seguir o exemplo de abnegação de Cristo (vv. 1-13);
O forte cuida, suporta, ajuda, coopera com o mais fraco na fé.
2. O apóstolo Paulo fala do seu ministério entre os gentios (vv. 14-22);
            A importância de proclamar o Evangelho é vital para ele.
3. Paulo fala de seus planos futuros (vv. 23-33);
Visitar a Espanha (vv. 23-24a);
Visitar Roma (v. 24b);
Ir para Jerusalém levar uma oferta aos necessitados (vv. 25-29);

Como foi dito, a prioridade de Paulo era o Evangelho, anunciá-lo para todos quanto pudesse. Quando escreveu a carta aos Romanos, Paulo estava perto do fim de sua terceira viagem missionária (por volta de 56 d.C), quando se preparava para partir para a Palestina com uma oferta para os cristãos pobres da igreja de Jerusalém (Rm 15.25).

Ele tinha o desejo de ir à Roma, mas no versículo 22, afirma que se sentiu impedido até aquele momento de visita-los, por causa do seu ministério aos gentios. Não era um empecilho físico que o impedia. Tendo o título de cidadão romano, ninguém poderia impedi-lo de viajar a Roma. Mas o Espírito de Deus o levava para outras direções. Era necessário que ele abrisse mão das suas vontades e anseios para obedecer à ordem do Espírito e atender às prioridades de Deus.

Vamos analisar quais eram os planos de Paulo e que quais lições podemos extrair deste texto:

I – OS PLANOS FUTUROS DO APÓSTOLO PAULO (vv.23-29)
Paulo era visionário, ele vivia um projeto e pensava noutro. Tinha uma mente ativa e fértil. Era proativo e não perdia as oportunidades. Era pioneiro, queria ir onde ninguém tinha ido com o Evangelho (v.23). Por isso, fazia projetos para a vida, mas não pessoal, ministerial. Ele queria ir para Roma e conhecer os irmãos de lá. Além disso ter um momento de descanso e refrigério.

Na Grécia, tinha plantado igrejas e plantaria outras ainda na Espanha e no caminho estava Roma. Roma era o centro do mundo na época, ele não pretendia ficar lá, apenas passar por lá, e tinha em mente de que a igreja o ajudaria em sua viagem para a Espanha (v.24b). Mas antes ele tinha outra missão: Ir para Jerusalém levar pessoalmente uma oferta aos irmãos necessitados da igreja de lá.

Vv.25-26 diz: 25 Agora, porém, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos. 26 Pois a Macedônia e a Acaia tiveram a alegria de contribuirpara os pobres dentre os santos de Jerusalém”.

Eis uma lição: Eles (Igrejas da Macedônia e Acaia) tiveram a alegria de contribuir. Contribuir financeiramente é uma grande alegria. Jesus mesmo disse que “melhor dar do que receber”. A contribuição era uma orientação para as igrejas (1Co 16.1). Leiamos o testemunho que Paulo relatou em 2 Coríntios 8.1-4:

1 Agora, irmãos, queremos que vocês tomem conhecimento da graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. 2 No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade. 3 Pois dou testemunho de que eles deram tudo quanto podiam, e até além do que podiam. Por iniciativa própria 4 eles nos suplicaram insistentemente o privilégio de participar da assistência aos santos”.

A Liberalidade é um dom. Pessoas que resolvem abençoar outras. Muitas até mesmo se sacrificam em favor do necessitado. Penso que: “A generosidade é uma virtude muito bela e admirável, que enobrece a pessoa e exalta a Deus. Enquanto a mesquinhez é uma atitude desprezável, que gera muita tristeza e empobrece a alma”.

Desde crianças aprendemos a dividir as coisas, principalmente comida. Lembro de ir na casa de um parente e ai corria na geladeira esconder o danone, escondia as bolachas e qualquer guloseima que estivesse comendo. Não faça isso, é muito feio! Meu pai ficava super chateado.

Com Tiago aprendemos que: “Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4.17).

Em Gálatas Paulo diz: “E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos” (Gálatas 6.9).

Continuando em Romanos 15...
No versículo 27 Paulo usa uma expressão muito interessante, ele diz que:“Eles tiveram prazer nisso, e de fato são devedores a eles”. E explica: “Pois se os gentios participaram das bênçãos espirituais dos judeus, devem também servir aos judeus com seus bens materiais”.

“são devedores”. A graça de Deus se manifesta a nós, esta divida, flui de um coração agradecido pela salvação, pela vida eterna e pelos benefícios da salvação. Você já parou para pensar quanto vale uma vida? Quanto vale a sua vida? Pensei no filme: A LISTA DE SHINDLER.

Conta a história de Oskar Schindler que gasta uma fortuna para ajudar a libertar dos campos de concentração nazistas cerca 1.100 judeus em Auschiwitz durante a Segunda Guerra Mundial. No final do filme, os judeus fizeram um anel e lhe entregaram por gratidão, e nele estava escrito em hebraico uma citação do Tamuld[1]“Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro”Mas aquele homem se desespera ao perceber que poderia ter salvo ainda muitas outras vidas, se tivesse vendido seu carro, um broche de ouro. E chorando disse: “eu poderia ter salvado mais pessoas”. Um filme emocionante!!!

·         Quanto vale uma vida? Quanto vale a sua vida? Se você pudesse, quanto você daria por uma vida que está se perdendo por não conhecer a Cristo? Ou quanto você é capaz de doar em favor daqueles que estão necessitados.

Somos devedores. Temos uma dívida de Gratidão para com o Reino de Deus. Ao conhecermos a Cristo, passamos a ter um coração sensível e voltado para o Evangelho. Então temos o privilégio e a alegria de cooperar com o Reino de Deus com nossos bens, não somente com nossos dons e talentos, mas com tudo que temos e somos. Deus é glorificado quando isso acontece!

II – AS SUPLICAS DO APÓSTOLO PAULO (vv.30-33)
Vimos que Paulo estava contando que a Igreja de Roma o ajudaria em sua viagem à Espanha, para levar o evangelho. Isso deixa claro que a Grande Comissão (Mc 16.15: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”) é para toda a igreja e não somente para os pregadores. Se você não pode ir ao campo levar a mensagem, deve ajudar a quem está indo, para que tenha mantimento e provisão no dia a dia. Afinal, como o próprio apóstolo Paulo disse: “Quem vai à guerra à sua própria custa?”Leia o Capítulo de 9 de 1Coríntios completo. Ali Paulo fala a respeito do sustento do obreiro de Deus.

Nestes versículos Paulo, faz três súplicas:
     Para que se unam com Ele em sua luta e Orem à favor dele (v. 30);
     Para que ele seja protegido dos não-crentes de Jerusalém (v. 31a);
     Para que ele seja aceito pelos crentes de Jerusalém (vv. 31b-33);

Eis aqui outra lição: A intercessão é como um combustível que fortalece, anima e faz com que o missionário siga em frente na obra do Senhor. Além disso, sempre digo que a intercessão é um privilégio. Antigamente somente os Sacerdotes e Sumo-sacerdotes tinham esta possibilidade. Mas depois que o véu se rasgou, temos acesso direto com o PAI, não apenas por nós, mas também para interceder pelos outros. O texto diz:

V.30: Recomendo-lhes, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que se unam a mim em minha luta, orando a Deus em meu favor.

Aqui aparece para nós a ideia de unidade, como um só exercito prontos para a mesma batalha, lutando junto com Paulo, num posto específico, na intercessão. Fico me perguntando porque será que gasto tão pouco tempo com a intercessão? Quantos missionários espalhados pelo mundo inteiro não estão precisando de nossas orações. Talvez a oração seja por intrepidez, ousadia, por sabedoria, para não desanimar e seguir avante, talvez seja por questões de saúde, ou até mesmo por sua família. Quanto tempo você gasta para orar pelos missionários e missionárias?

V. 31a: “Orem para que eu esteja livre dos descrentes da Judéia...”

O contexto de missões não era apenas difícil, era perigoso, como ainda é em alguns lugares. Muitos judeus na Judéia rejeitaram o evangelho e estavam preparados para atacar quando Paulo retornasse. Ciente do problema que o aguardava (Atos 20.22-24), ele queria que os cristãos de Roma orassem pelo seu livramento, pois só assim poderia concluir o ministério dado a ele pelo Senhor. As orações dele foram atendidas e ele foi bem recebido em Jerusalém (Atos 21. 17,19-20) e livrando da morte, mas não da prisão (Atos 21.10-11; 23.11).

O outro pedido está nos vv.31b-32: “... e que o meu serviço em Jerusalémseja aceitável aos santos, 32 de forma que, pela vontade de Deus, eu os visite com alegria e juntamente com vocês desfrute de um período de refrigério.

Paulo queria que os cristãos judeus em Jerusalém recebessem a ajuda financeira dos gentios com amável gratidão, reconhecendo-a como um geste de amor, bondade e generosidade por parte daqueles irmãos da Macedônia e Acaia.

Paulo, por fim, encontrou a alegria e o descanso que procurava em Roma, porém em uma prisão domiciliar, mas mesmo prisioneiro Paulo pregava o Reino de Deus com toda intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo (Atos 28.15-16, 30-31).

Paulo finaliza o capítulo assim, v. 33: “O Deus da paz seja com todos vocês. Amém”. Assim como é o Deus da Esperança (v.13) que enche o coração de alegria, Deus também é a fonte da paz verdadeira. Não como a paz do mundo. Mas uma paz real e eterna, este foi o desejo de Paulo.

·         Ore, interceda pelos obreiros do Senhor, Sustente financeiramente a obra do Senhor!

CONCLUSÃO
Aprendemos que Paulo tinha como prioridade de vida o Reino de Deus. A pregação do evangelho, a ajuda aos necessitados, estímulo às boas obras, ao amor fraterno e à paixão aos que estão perdidos. Outra coisa que valoriza era o sustento missionário e a intercessão, privilégio dos filhos de Deus que possuem uma divida de gratidão.

Como Paulo, precisamos ter planos e projetos de vida. Nem todos serão missionários, mas como filhos de Deus, de alguma maneira precisamos priorizar o Reino de Deus. Podemos pensar de que forma a minha profissão pode contribuir para com o Reino, como meus recursos financeiros podem ser utilizados em pró do Reino, como minha família precisa ser ensinada para que desde pequenos nossos filhos sintam o desejo de cooperar, com dons, talentos, e com os recursos financeiros que Deus proverá.

Quero finalizar com as Palavras de Jesus, o desafio é crer Nela e por em prática:

“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6.33).

No amor de Cristo, Pr Paulo Berberth

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O QUE UM DEUS SOBERANO NÃO PODE FAZER (DAVE HUNT)

Uma das expressões mais comuns que escutamos em círculos cristãos, especialmente quando se quer reassumir a confiança quando as coisas não estão dando certo, é que “Deus esta no controle, Ele ainda está no trono.” Os cristãos se confortam com estas palavras – mas o que elas significam? Deus não estava “no controle” quando Satã rebelou e quando Adão e Eva desobedeceram, mas agora Ele está? Deus estar no controle significa que todos os estupros, assassinatos, guerra e o mal proliferado é exatamente o que Ele planejou e deseja?
Cristo nos pede para orar, “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Por que a oração se nós já estamos no reino de Deus com Satã preso, como João Calvino ensinou e os Reconstrucionistas alegam hoje? Poderia um mundo de mal excessivo ser realmente o que Deus deseja? Certamente não!
“Espere um minuto!” alguém se opõe. “Você está sugerindo que nosso Deus onipotente é incapaz de realizar Sua vontade sobre a terra? Que heresia esta! Paulo claramente diz que Deus ‘faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade’ (Ef 1.11).”
Sim. Mas a própria Bíblia contém muitos exemplos de homens desafiando a vontade de Deus e desobedecendo-o. Deus se lamenta, “Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se rebelaram contra mim” (Is 1.2). Os sacrifícios que eles oferecem a Ele e suas vidas corruptas não são obviamente de acordo com a Sua vontade. Somos informados de que “os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus” (Lc 7.30).
A declaração de Cristo em Mt 7.21 mostra claramente que todos nem sempre fazemos a vontade de Deus. Isto está implícito em Is 65.12, 1Ts 5.17-19, Hb 10.36, 1Pe 2.15, 1Jo 2.17 e muitas outras passagens. De fato, Ef 1.11 não diz que tudo que acontece é de acordo com a vontade de Deus, mas de acordo com “o conselho” de Sua vontade. Claramente o conselho da vontade de Deus deu ao homem liberdade para desobedecê-lo. Não há nenhuma outra explicação para o pecado.
Todavia, em seu zelo para proteger a soberania de Deus de qualquer desafio, A. W. Pink argumenta ardentemente, “Deus preordena tudo que acontece… Deus inicia todas as coisas, controla todas as coisas…”[1] Edwin H. Palmer concorda: “Deus está por trás de tudo. Ele decide e faz todas as coisas acontecerem… Ele preordenou tudo ‘segundo o conselho de Sua vontade’ (Ef 1.11): o mover de um dedo… o erro de um datilografista – até o pecado.”[2]
Estamos aqui diante de uma distinção vital. Uma coisa é Deus, em Sua soberania e sem diminuir esta soberania, dar ao homem o poder para rebelar contra Ele. Isto abriria a porta para o pecado, sendo o homem unicamente responsável por sua livre escolha. Outra totalmente diferente é Deus controlar tudo de tal maneira que Ele deve efetivamente causar o pecado do homem.
É uma falácia imaginar que, para Deus estar no controle de Seu universo, Ele precisa, por essa razão, preordenar e iniciar tudo. Deste modo, Ele causa o pecado, depois pune o pecador. Para justificar esta opinião, é argumentado que “Deus não tem nenhuma obrigação de conceder Sua graça àqueles que Ele predestina para o julgamento eterno.” De fato, obrigação não tem nenhuma relação com graça.
Na verdade diminui a soberania de Deus sugerir que Ele não pode usar para seus propósitos o que Ele não preordena e origina. Não há razão lógica nem bíblica por que um Deus soberano, por Seu próprio plano soberano, não poderia conceder a criaturas feitas à Sua imagem a liberdade de escolha moral genuína. E há razões convincentes por que Ele faria dessa forma.
Muitas vezes um ateísta (ou um sincero indagador que está perturbado pelo mal e o sofrimento) lança em nossas faces, “Você alega que seu Deus é todo-poderoso. Então por que Ele não interrompe o mal e o sofrimento? Se Ele pode e não faz, Ele é um monstro; se Ele não pode, então Ele não é todo-poderoso!” O ateísta pensa que nos encurralou.
A resposta envolve certas coisas que Deus não pode fazer.
Mas Deus é infinito em poder, então não deve haver nada que Ele não possa fazer! Sério? O próprio fato que Ele é infinito em poder significa que Ele não pode falhar. Há muito mais que seres finitos fazem todo o tempo que o infinito, absolutamente soberano Deus não pode fazer por Ele ser Deus: mentir, trapacear, roubar, pecar, se enganar, etc. De fato, muito mais que Deus não pode fazer é vital para nós entendermos quando enfrentamos desafios de céticos.
Tragicamente, há muitas questões sinceras que muitos cristãos não podem responder. Poucos pais têm tirado um tempo para pensar nos muitos desafios intelectuais e teológicos que suas crianças progressivamente enfrentam, desafios para os quais a juventude de hoje não encontra respostas de tantos púlpitos e lições das escolas dominicais. Como resultado, números crescentes daqueles criados em lares e igrejas evangélicos estão abandonando a “fé” que nunca adequadamente entenderam.
A soberania e o poder é a panacéia? Muitos cristãos superficialmente acham que sim. Todavia há muito para o qual a soberania e o poder são irrelevantes. Deus age não apenas soberanamente, mas com amor, graça, misericórdia, justiça e verdade. Sua soberania é exercitada somente em perfeita harmonia com todos os Seus outros atributos.
Há muito que Deus não pode fazer, não apesar do que Ele é, mas por causa de quem Ele é. Até Agostinho, descrito como o primeiro dos assim chamados primeiros Pais da Igreja que “ensinou a absoluta soberania de Deus,”[3]declarou, “Por conseguinte, Ele não pode fazer algumas coisas justamente por ser onipotente.”[4]
Por causa de Sua absoluta santidade, é impossível para Deus praticar o mal, fazer com que outros pratiquem ou até tentar alguém ao mal: “Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta,” (Tg 1.13). Mas e quanto às muitas passagens na Escritura onde diz que Deus tentou alguém ou foi tentado? Por exemplo, “Deus tentou a Abraão” (Gn 22.1). A palavra hebraica aí e por todo o Velho Testamento énacah, que significa testar ou provar, como num teste de pureza de um metal. Não tem nada a ver com tentar para pecar. Deus estava testando a fé e a obediência de Abraão.
Se Deus não pode ser tentado, por que Israel é alertado, “Não tentareis o Senhor vosso Deus” (Dt 6.16)? Somos até informados de que em Massá, ao pedir água, “tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7). Mais tarde eles “tentaram a Deus nos seus corações, pedindo comida segundo o seu apetite… dizendo: Poderá Deus porventura preparar uma mesa no deserto?… provocaram o Deus Altíssimo” (Sl 78.18-19, 56).
Deus não estava sendo tentado para realizar o mal, Ele estava sendo provocado, Sua paciência estava sendo testada. Ao invés de esperar obedientemente que Ele supra suas necessidades, Seu povo estava pedindo que Ele usasse Seu poder para lhes dar o que queriam para satisfazer seus desejos. A “tentação” de Deus era um desafio blasfemo forçando-o a, ou ceder ao desejo deles, ou puni-los pela rebelião.
Quando Jesus foi “tentado pelo Diabo” para lançar-se do pináculo do templo para provar que os anjos Lhes sustentariam em suas mãos, Ele lembrou, “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4.1-11). Em outras palavras, colocar-nos deliberadamente em um lugar onde Deus deva agir para nos proteger é tentá-lo.
Tiago então diz, “Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” A tentação ao mal não vem de fora mas de dentro. O homem que não poderia possivelmente ser “tentado” para ser desonesto nos negócios pode sucumbir à tentação de cometer adultério e, assim, ser desonesto com sua mulher. Dizem que “todo homem tem seu preço.”
Deus não estava tentando Adão e Eva para pecar quando Ele lhes diz para não comerem de uma árvore em particular. Eva foi tentada por sua própria cobiça e desejo egocêntrico. Até na inocência o homem podia ser egoísta e desobediente. Vemos isto em jovens infantes que por enquanto não sabem a diferença entre o certo e o errado.
Além disso, há muitas outras coisas que Deus não pode fazer. Deus não pode negar a Si mesmo ou se contradizer. Ele não pode mudar. Ele não pode voltar atrás em Sua Palavra. Especialmente em relação à humanidade, há algumas coisas que Deus não pode fazer que são muito importantes para entender e explicar aos outros. Um dos conceitos mais fundamentais (e menos entendido pelas pessoas “religiosas”) é este: Ele não pode perdoar o pecado sem a pena ser paga e aceita pelo homem.
Estamos dizendo que apesar de Sua soberania e infinito poder Deus não pode perdoar quem Ele quer, Ele não pode simplesmente apagar o passado deles no registro celestial? Exatamente: Ele não pode, porque Ele é também perfeitamente justo. “Então você está sugerindo,” alguns se queixam, “que Deus quer salvar toda a humanidade mas falta o poder para fazer isso? É uma negação da onipotência e soberania de Deus se houver algo que Ele deseja mas não possa realizar.” De fato, onipotência e soberania são irrelevantes em consideração ao perdão.
Cristo no Jardim na noite anterior da cruz gritou, “Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice…” (Mt 26.39). Certamente se tivesse sido possível proporcionar salvação de outra forma, o Pai teria isentado Cristo dos excruciantes sofrimentos físicos da cruz e a agonia espiritual infinita de sofrer a pena que Sua perfeita justiça tinha pronunciada sobre o pecado. Mas até para o Deus onipotente não houve outro jeito. É importante que nós claramente explicamos esta verdade bíblica e lógica quando apresentamos o evangelho.
Suponha que um juiz tenha diante dele um filho, uma filha ou outra pessoa amada considerada culpada de múltiplos assassinatos pelo júri. Apesar de seu amor, o juiz deve confirmar a pena exigida pela lei. O amor não pode anular a justiça. O único modo que Deus poderia perdoar pecadores e continuar justo seria que Cristo pagasse a pena pelo pecado (Rm 3.21-28).
Há duas outras questões de vital importância em relação à salvação do homem que Deus não pode fazer: ele não pode forçar ninguém a amá-lo; e Ele não pode forçar ninguém a aceitar um presente. Pela própria natureza do amor e da doação, o homem deve ter o poder de escolha. A recepção do amor de Deus e do dom da salvação através de Jesus Cristo pode somente ser por um ato do livre-arbítrio do homem.
Alguns argumentam que se a vontade de Deus fosse que todos os homens fossem salvos, o fato de todos não serem salvos significaria que a vontade de Deus seria frustrada e Sua soberania aniquilada pelos homens. É também argumentado que, se o homem pudesse dizer sim ou não a Cristo, ele teria a palavra final em sua salvação e sua vontade é mais forte do que a vontade de Deus: “A heresia do livre-arbítrio destrona Deus e entroniza o homem.”[5]
Não há nada na Bíblia ou na lógica que sugere que a soberania de Deus requer que o homem seja impotente para fazer uma escolha real, moral ou de qualquer outra maneira.
Dar ao homem o poder para fazer um escolha genuína, independente, não diminui o controle de Deus sobre Seu universo. Sendo onipotente e onisciente, Deus certamente poderia arranjar as circunstâncias para impedir que a rebelião do homem possa frustrar Seus propósitos. De fato, Deus poderia até usar o livre-arbítrio do homem para ajudar a cumprir Seus próprios planos e por meio disso ser ainda mais glorificado.
O grande plano de Deus desde a fundação do mundo para conceder ao homem o dom de Seu amor impede qualquer faculdade para forçar esse dom sobre qualquer uma de Suas criaturas. Tanto o amor quanto os dons de qualquer espécie devem ser recebidos. A força perverte a transação.
O fato que Deus não pode falhar, mentir, pecar, mudar ou negar a Si mesmo não diminui Sua soberania em qualquer proporção. Nem é Ele menos soberano porque não pode forçar alguém a amá-lo ou a receber o dom da vida eterna por Jesus Cristo. E do lado humano, a limitação reversa prevalece: não há nada que alguém possa fazer para merecer ou ganhar o amor ou um dom. Eles devem ser dados livremente do coração de Deus sem qualquer razão que não seja o amor, a misericórdia e a graça.
Maravilhosamente, em Sua graça soberana, Deus assim constituiu o homem e teve a intenção que o homem recebesse esse dom voluntariamente por um ato de sua vontade e respondesse com amor ao amor de Deus. Alguém uma vez disse, “O livre-arbítrio do homem é a mais maravilhosa das obras do Criador.”[6] O poder de escolha abre a porta para algo maravilhoso além de nossa compreensão: comunhão genuína entre Deus e o homem por toda a eternidade. Sem o livre-arbítrio o homem não poderia receber o dom da vida eterna, por isso Deus não poderia dar este dom a ele.
Pusey aponta que “Sem o livre-arbítrio, o homem seria inferior aos menores animais, que têm uma espécie de liberdade limitada de escolha…. Seria auto-contraditório que o Deus Todo-Poderoso criasse um livre agente capaz de amá-lo, sem também ser capaz de rejeitar Seu amor…. sem o livre-arbítrio não poderíamos livremente amar Deus. Liberdade é uma condição do amor.”[7]
É o poder de escolha genuína do próprio coração e vontade do homem que Deus tem soberanamente dado a ele que possibilita Deus a amar o homem e ao homem receber esse amor e a amar Deus em resposta “porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). É impossível que o poder de escolha pudesse desafiar a soberania de Deus visto que é a soberania de Deus que conferiu este dom ao homem e estabeleceu as condições para amar e dar.
Sugerir que Deus estaria faltando em “poder” (assim negando Sua soberania) se Ele oferecesse salvação e alguns a rejeitasse é errar o alvo. Poder e amor não são partes da mesma discussão. De fato, das muitas coisas que temos visto que Deus não pode fazer, uma falta de “poder” não é a razão para qualquer uma delas, nem é Sua soberania mitigada de maneira alguma por qualquer uma destas.
Assim, Deus ter dado à humanidade o poder de escolher amá-lo ou não e receber ou rejeitar o dom gratuito da salvação, longe de negar a soberania de Deus, admite o que a própria soberania de Deus amorosa e maravilhosamente proporcionou. Que possamos desejosamente responder de coração a Seu amor com nosso amor, e em gratidão por Seu enorme dom proclamar as boas novas aos outros.
Dave Hunt  – Tradução: Paulo Cesar Antune
Extraído do site arminianismo.com em 27/10/2013
[1] Pink, The Sovereignty of God, 240.
[2] Edwin H. Palmer, The Five Points of Calvinism (Baker Books, 1999), 25.
[3] C. Norman Sellers, Election and Perseverance (Schoettle Publishing Co., 1987), 3.
[4] Augustine, The City of God, V. 10.
[5] W.E. Best, Free Grace Versus Free Will (Best Book Missionary Trust, 1977), 35.
[6] Junius B. Reimensnyder, Doom Eternal (N.S. Quiney, 1880), 257; citado em Fisk, Calvinistic Paths Retraced, 223.
[7] Edward B. Pusey, What Is Of Faith As To Everlasting Punishment?  (James Parker & Co., 1881), 22-23; citado em Samuel Fisk, Calvinistic Paths Retraced (Biblical Evangelism Press, 1985), 222.
Fonte:www.cacp.org.br

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


Um Lugar de Adoração a Deus no Deserto - Luciano de Paula Lourenço

Texto Básico: Êxodo 25:1-9
 “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25:8).
INTRODUÇÃO
Desde o inicio, na criação, Deus estabeleceu com os homens um relacionamento íntimo e de comunhão (Gn 3:8), para que lhe fosse prestado um culto de louvor. Noé e seus descentes, assim como os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó mantinham viva essa relação cultual por meio de sacrifícios prestados em altares de pedra (Gn 8:20; Gn 12:7; 26:25; 35:1,2). Após o êxodo, Deus queria habitar no meio de Israel, por isso Ele ordenou e orientou a Moisés que, juntamente com o povo recém-liberto da escravidão do Egito, estabelecesse um local e um ritual para o culto que deveriam prestar a Ele (Êx 25-30). Esse lugar seria o “Tabernáculo” (hebraico mikadesh,santuário), um lugar de adoração ao único Deus verdadeiro. O Tabernáculo foi, durante os anos de peregrinação pelo deserto, o lugar de encontro de Deus com o seu povo; ali, o Todo-poderoso revelou-se e recebeu adoração (Êx 40:34,35). Esse santuário simboliza a verdade de que lugares secos e áridos enchem-se de vida com a presença de Deus entre o Seu povo! (Sl 58:11; 2Tm 1:10).
A ideia central do Tabernáculo era que Deus habitava entre o seu povo; sua plena realização encontra-se na encarnação de Cristo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (literalmente, fez tabernáculo entre nós, João 1:14). Daí que se chama Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1:23). Em nossos dias a presença de Deus se manifesta na igreja por meio do Espírito Santo que habita nos cristãos (Ef 2:21,22).
Nesta Aula trataremos sobre o verdadeiro culto com os princípios eternos subjacentes nas instruções divinas para a construção do Tabernáculo, um lugar de adoração a Deus no deserto.
I. AS INSTRUÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO
Quando o povo de Israel saiu do Egito em direção à Terra Prometida, Deus mandou Moisés construir o Tabernáculo - “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles”(Ex 25:8). Foi construído conforme as orientações concedidas por Deus a Moisés, para que Ele pudesse manifestar Sua presença e receber a devida adoração.
Sempre que se procedia à montagem do Tabernáculo, era feita de dentro para fora, ou seja, do Santo dos Santos para o Pátio, simbolizando a forma como Deus opera na vida do ser humano: a partir do seu interior. A tarefa de montar e desmontar o Tabernáculo cabia apenas aos levitas (Nm 3:6-8).
O Tabernáculo tinha vários nomes. Em regra geral, chamava-se “tenda” ou “tabernáculo” por sua cobertura exterior que o asseme­lhava a uma tenda; também se denominava “tenda da congregação”, porque ali Deus se reunia com o seu povo (Êx 29:42-44); visto como continha a Arca e as tábuas da lei, chamava-se “tabernáculo do testemunho” (Êx 38:21) - testificava da santidade de Deus e da pecaminosidade do homem; chamava-se, além disso, “santuário” (Êx 25:8), porque era um lugar de culto ao Senhor e de sua santa presença.
1. O propósito divino.  Embora em sentido literal seja impossível que a presença de Deus se limite a um lugar (Atos 7:48,49), pois “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos“, o Tabernáculo tinha um propósito precípuo: lembrar ao povo que ele possuía o privilegio incomparável de ter o Senhor no meio de Israel. No Tabernáculo, Deus se fazia presente como Rei do seu povo e recebia culto de louvor e adoração. Para além disso, o Tabernáculo também era o símbolo do relacionamento e da intimidade do ser humano com Cristo - “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração (…). Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel”(Hb 10:19-23).
Entendendo melhor…
O Tabernáculo tinha os seguintes propósitos:
a) Proporcionar um lugar onde Deus se manifestasse entre seu povo (Êx 25:8; 29:42-46; Nm 7:89). Aí o Rei invisível podia encontrar-se com os representantes de seu povo e eles com o Rei. Até aquele momento, Deus já havia se manifestado várias vezes em favor de Israel, mas não fora visto ainda “no meio deles”. Quando Deus falava a Moisés no monte, o povo assistia à distância, impactado pela visão dos raios projetados lá de cima. Agora, porém, Deus está dizendo que a sua presença, que os assistira até ali, estaria permanentemente no meio do arraial, representada por um santuário erguido sob Sua orientação. O Tabernáculo lembrava também aos israelitas que Deus os acompanhava em sua peregrina­ção.
b) Ser o centro da vida religiosa, moral e social. O Tabernáculo sempre se situava no meio do acampamento das doze tribos (Nm 2:17), e era o lugar de sacrifício e centro de celebração das festas nacionais.
c) Representar grandes verdades espirituais que Deus desejava gravar na mente humana, tais como sua majestade e santidade, sua proximidade e a forma de aproximar-se de um Deus santo. Os objetos e ritos do Tabernáculo também prefiguravam as realidades cristãs (Hb 8:1,2, 8-11;10:1). Desempenhavam um papel importante em preparar os hebreus para receber a obra sacerdotal de Jesus Cristo.
Observação: o “Tabernáculo” não se trata de morada de Deus. O principal objetivo do Tabernáculo (Mikadesh, santuário) é “… e habitarei no meio deles” (Êx 25:8b), ou seja, entre eles, e não “nele” (“shakan”); com isso se chega à absoluta negação do antropomorfismo, no sentido de morada de Deus. O Templo, Tabernáculo, não é morada de Deus, mas dos homens, e seu principal objetivo é o de aperfeiçoar a condição humana à condição divina. 2. As ofertas. O Tabernáculo foi construído com as ofertas voluntárias do povo hebreu (cf. Êx 25:2-7). Deus desejava ver um coração bem disposto. Ninguém foi obrigado a ofertar, mas não poderia ofertar qualquer coisa; teriam que se enquadrar dentro de uma lista predeterminada pelo Senhor (Êx 25:3-7). Eram ofertas custosas, pois se calcula que por si sós equivaleriam hoje a mais de um milhão de dólares.
Êxodo 35:4-29 demonstra quão importante era para o Senhor que cada um tivesse a oportunidade de dar alguma coisa. Precisava-se de metais, materiais e tecidos de todos os tipos. Todos podiam dar segundo o que possuíam. Deus não depende de uns poucos homens ricos para pagar as contas. Deseja que todos desfrutem a emoção e a bênção de partilhar o que têm. Os israelitas deram com alegria, e foi tão abundante que foi necessário suspender a oferta (Êx 36:5-7). Para o povo de Deus da nova aliança, a Palavra de Deus nos ensina que o fator motivante para a contribuição do crente é a alegria (2Co 9:7).
Além das ofertas materiais, Deus exigiu deles habilidade, conhecimento e trabalho (cf. Êx 35:25,26; 36:2,4). As mulheres, também, emprega­vam suas habilidades fiando tecidos primorosos. Bezaleel e Aoliabe foram chamados pelo Senhor e ungidos com o Espírito para desenvolver projetos, trabalhar os metais e ensinar a outros. Deus concede ministérios especiais a alguns e trabalho para todos.
3. Tudo segundo ordenança divina. Quem fez a planta do tabernáculo? Todos os detalhes foram feitos de acordo com o desenho que Deus mostrou a Moisés no Monte Sinai (Êx25:9,40;26:30;35:10). Isto nos ensina que é o próprio Deus quem determina os pormenores relacionados com o culto verdadeiro. Ele não aceita as invenções religiosas humanas nem o culto prestado segundo prescrições de homens (Cl 2:20-23); temos de adorar a Deus da forma indicada em sua Palavra.Ao construir o Tabernáculo estritamente conforme às ordenanças de Deus, os israeli­tas foram recompensados, pois a glória do Senhor encheu a “tenda” e a nuvem do Senhor permaneceu sobre ela (Êx 40:34-38). Igualmente conosco, se desejamos a presença e bênção divinas, temos de cumprir as condições expressas na Palavra de Deus.O Tabernáculo, assim como o homem é composto de três partes principais: o Pátio, o           Lugar santo e o Santo dos santos (visto de fora para dentro).
Uma curiosidade é que quando o Tabernáculo era montado, a cada vez que o povo de Israel parava no deserto, ele era montado de dentro para fora, ou seja, do Santo dos santos até o Pátio! Aprendemos aqui que o Eterno inicia seu tratamento conosco a partir de dentro, daquilo que temos de mais interior: o espírito.
As divisões citadas do tabernáculo representam corpo, alma e espírito. E é justamente por causa disso que o Eterno inicia seu processo de redenção no homem a partir do espírito, pois o Espírito de Deus tem comunhão com o nosso espírito nos religando ao nosso Criador.
II. O PÁTIO DO TABERNÁCULO
1. O pátio. ”Farás também o pátio do tabernáculo” (Êx 274:9). Esse Pátio tinha um formato retangular e media cerca de 45 metros de comprimento por 22 metros de largura (Êx 27:18). Ele era cercado por cortinas e havia uma única entrada para ele. O Pátio cercado por cortinas simbolizava a separação que deve haver para adoração a Deus. Silas Daniel citando Mattew Henry diz que o “pátio era um tipo da igreja, fechada e separada do resto do mundo, encerrada por colunas, indicando a estabilidade da igreja, fechada com o linho limpo, que está escrito que é a justiça dos santos (Ap 19:8). Este eram os átrios pelos quais ansiava Davi e onde ele anelava residir (Sl 84:2,10), e onde o povo de Deus entrava com louvor e agradecimentos” (Sl 100:4).
O Pátio ficava na parte mais exterior do Tabernáculo e era descoberto. Isso significa que quem está ali (e a maioria dos crentes ainda estão no pátio) está exposto às intempéries do tempo - sol, chuva, ventos, etc… além de tipificar a primeira experiência que todo homem deve ter para com Deus. Esta fase nos fala que o Pátio é somente uma parte do caminho a ser percorrido.
O Pátio compunha-se de três elementos: a Porta, o Altar e a Pia.
a) A PORTA. Só existia uma Porta de entrada para o Pátio; representava Cristo, que é a Única Porta de acesso a Deus, o Único Caminho para o Céu (João 10:9;14:6). A Porta do Tabernáculo ficava virada para o leste, o lado onde nasce o sol. Quando o dia nascia a primeira coisa que viam era o nascimento do sol, que simboliza Jesus Cristo. Isto nos fala de nossa primeira experiência com o Eterno: a salvação. Quando passamos pela Porta (Jesus), saímos do mundo e entramos numa nova vida. Nossa vida recomeça então a partir do zero, pois iniciamos uma nova caminhada, só que agora com Deus. Nosso objetivo e alvo é crescermos até a estatura de varão perfeito em Cristo.
b) O ALTAR. A primeira coisa que era vista pela pessoa que adentrava o Pátio era o Altar dos Holocaustos, que era feito de madeira de cetim (acácia) coberta de bronze e seu formato era de um quadrado com 2,25 metros de cada lado por 1,35 metro de altura (Êx 27:1,2). Cada canto do Altar tinha um chifre, ponta que se sobressaía em forma de chifre de boi. Os animais para o sacrifício eram atados a este chifre (Salmo 118:27). Também, se alguma pessoa era perseguida, podia apegar-se aos chifres do altar a fim de obter misericórdia e proteção (1Reis 1:50,51). Ali os animais eram imolados em sacrifício para expiação dos pecados. O sangue das vítimas era colocado nas pontas do altar e o restante dele era derramado na sua base (Lv 4:7).
Portanto, o Altar é o local de morte. É ali que nossa vida é colocada como um sacrifício para Deus. No Altar nós morremos para as nossas próprias convicções, vontades, desejos, expectativas, etc.. No Altar tem fim o velho homem. O desejo do coração do Eterno é que, após termos um verdadeiro encontro com Ele, possamos verdadeiramente morrer.
Quando o sacrifício queimava, subia um cheiro que se desprendia da vítima. E é isso que o Deus espera, que quando nossa vida for a Ele oferecida, possamos liberar um cheiro suave a fim de agradarmos ao Senhor - “Assim queimarás todo o carneiro sobre o altar; é um holocausto para o Senhor, cheiro suave; uma oferta queimada ao Senhor” (Êx 29:18).
c) A PIA DE BRONZE (Êx 30:17-21). A Pia de bronze era utilizada para o sacrifício de purificação (Êx 30:17-21). Essa lavagem cerimonial era feita com água constantemente substituída, já que não havia sistema de torneiras ou bicas disponíveis. Os sacerdotes deveriam se lavar sempre nela antes de ministrarem no interior do Tabernáculo ou no Altar dos Holocaustos.
Para o cristão, a Pia nos simboliza mais um aspecto: o batismo. Após a nossa morte, agora temos de consolidar nossa vida cristã testemunhando de forma plena a experiência da conversão. Por isso a Pia nos fala de limpeza, onde os pecados são lavados publicamente e somos integrados a uma nova realidade. Tipifica nossa morte e ressurreição a fim de vivermos uma nova vida com Cristo - “De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:4).
III. O LUGAR SANTO
LUGAR SANTO é uma fase mais interior do Tabernáculo e ele representa a alma. É ali que adentramos na presença do Eterno, pois todos os mobiliários do Lugar santo são de ouro, e o ouro nos fala da divindade, nos fala da realeza e da eternidade. Nesse lugar ficavam o Castiçal de ouro, a Mesa dos pães da proposição e o Altar do incenso. Estima-se que este lugar media 9 metros de extensão.
1. O Castiçal de ouro (Êx 25:31-40). No lado esquerdo de quem entra no Santuário está o Candelabro de Ouro com suas sete lâmpadas, feito com ouro batido (pesando 30 quilos) - “As suas maçãs e as suas canas serão do mesmo; tudo será de uma só peça, obra batida de ouro puro” (Êx 25:36). Sua “cana” ou tronco descansava sobre um pedestal. Tinha sete braços, três de cada lado e um no centro. Cada um com figuras de maçãs, flores e copos lavrados em derredor.
O Castiçal de ouro simbolizava o povo de Deus, Israel. Ensinava que Israel devia ser “luz dos gentios” (Is 49:6; 60:1-3; Rm 2:19), dando testemunho ao mundo por meio de uma vida santa e da mensagem proclamada do Senhor.
O apóstolo João utiliza a figura do castiçal: representa as sete igrejas da Ásia como sete castiçais (Ap 1:12-20); portanto, o Castiçal prefigura a Igreja de Jesus Cristo. Assim como o tronco do castiçal unia os sete braços e suas lâmpadas, assim também Jesus Cristo está no meio de suas igrejas e as une. Embora as igrejas locais sejam muitas, constituem uma só Igreja em Cristo (Hb 12:23). Também Jesus disse aos seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14).
O azeite utilizado no Castiçal era símbolo do Espirito Santo. Todas as tardes os sacerdotes limpavam as mechas e enchiam as lâmpadas com azeite puro de oliva a fim de que ardessem durante toda a noite (Êx 27:20,21;30:7,8). Do mesmo modo o crente necessita receber todos os dias o azeite do Espirito Santo (Sl 92:10) para que sua luz brilhe diante dos que andam na escuridão espiritual. Se o crente não tem a presença e o poder do Espirito Santo em sua vida, não será uma boa testemunha. ”Enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18) é a recomendação do apóstolo Paulo.
2. Os pães da proposição (Êx 25:30) - “E sobre a mesa porás o pão da proposição perante a minha face continuamente”. A Mesa dos pães da proposição ficava à direita do Lugar Santo. Era feita de acácia e revestida de ouro. Todos os sábados os sacerdotes punham sobre a mesa doze pães asmos, ou seja, sem fermento, e retiravam os pães envelhecidos que os sacerdotes comiam no Lugar Santo.
A frase “pães da proposição” significava literalmente “pães do rosto“, e em algumas versões da Bíblia se traduz “pão da presença“, pois o pão era colocado continuamente na presença de Deus. Os doze pães colocados na mesa representavam uma oferta de gratidão a Deus da parte das doze tribos de Israel, pois o pão era ao mesmo tempo uma dádiva de Deus e fruto dos esforços humanos. Por isso o povo reconhecia que havia recebido seu sustento de Deus e ao mesmo tempo consagrava a Ele os seus frutos de seu trabalho. Portanto, a Mesa dos pães refere-se também à mordomia dos bens materiais.
3. O Altar do incenso (Êx 30:1-10). Diante do Véu no lugar santo estava o altar do incenso. À semelhança dos outros móveis da tenda, era feito de acácia e revestido de ouro. Todas as manhãs e todas as tardes, quando preparavam as lâmpadas, os sacerdotes queimavam sobre esse altar o incenso utilizando-se de fogo tirado do Altar do holocausto. O Altar do incenso relacionava-se mais estreitamente com o Lugar santíssimo do que com os demais móveis do Lugar santo. É descrito como o Altar “que está perante a face do Senhor” (Lv 4:18), como se não existisse o Véu entre ele e a Arca. Portanto, era considerado em conjunto com a Arca, com o Propiciatório e com a Shekinade glória.
O Altar do incenso estava no centro. Isto ensina-nos que uma vida de oração é imprescindível para agradar a Deus, já que o incenso simbolizava a oração, o louvor e a intercessão do povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento (Salmo 141:2; Lc 1:10; Ap 5:8; 8:3).
Assim como o perfume do fumo, que o incenso desprendia, subia ao céu, os louvores, as rogativas e as intercessões sobem ao Senhor como cheiro agradável.
Duas vezes por dia acendia-se o incenso sobre o Altar e provavelmente ardia durante o dia todo. Isto ensina que os filhos de Deus devem ser constantes na oração.
Acendia-se o incenso com o fogo do Altar dos holocaustos, o que nos leva a notar que a oração aceitável ao Senhor se relaciona com a expiação do pecado e a consagração do crente.
Também se destaca a importância do fogo para consumir o incenso. Se o incenso não ardia, não havia cheiro agradável. Igualmente, o crente necessita do fogo do Espírito Santo para que faça arder o incenso da devoção (Ef 6:18). As orações frias não sobem ao trono da graça.
Finalmente, observamos que o sumo sacerdote espargia sangue sobre os cantos do Altar do incenso uma vez por ano, demonstrando que, embora o culto humano seja imperfeito (Rm 8:26, 27), somos “agradáveis a si no Amado” por seu sangue expiador e sua intercessão perpétua (Ef 1:6,7; Rm 8:34; Hb 9:25).
Como a Mesa dos pães e o Castiçal estavam relacionados com o Altar do incenso, a consagração e o testemunho do fiel estão relacionados com a vida de oração. Se o cristão não tem comunhão com Deus, logo deixará de consagrar ao Senhor os frutos de seu trabalho, e sua luz deixará de alumiar os homens.
IV. O SANTO DOS SANTOS
1. O Santo dos Santos e a Arca da aliança (Êx 25:10-22). Este é o lugar mais interior do Tabernáculo. Ali havia somente a Arca do concerto, o objeto mais sagrado de Israel. Neste lugar somente o sumo sacerdote poderia entrar, e apenas uma vez ao ano (Hb 9:7), para aspergir sobre o propiciatório - isto é, a tampa da Arca -, o sangue que havia sido derramado do sacrifício anual feito para expiação dos pecados de todo o povo (Lv 16:14,15; 17:11). Hoje, tal expiação não é mais necessária, porque Jesus, o nosso Sumo Sacerdote por excelência, já entrou na presença do Pai oferecendo o seu próprio sangue como propiciação definitiva pelos nossos pecados (Rm 3:24,25; Hb 9:11-15; 10:10,12), de maneira que todos quanto o recebem como único e suficiente Salvador e Senhor, aceitando seu sacrifício em nosso favor e entregando sua vidas totalmente a Ele, têm livre acesso à presença de Deus (Hb 10:19-23).
- O VÉU é a única coisa que separa o Lugar Santo do Lugar Santíssimo. O Véu que separava o Lugar santíssimo do Lugar santo e excluía todos os homens com exceção do sumo sacerdote, acentuava que Deus é inacessível ao homem pecador. Somente por via do mediador nomeado por Deus e do sacrifício do inocente podia o homem aproximar-se de Deus. Com a morte de Jesus, algo aconteceu: o Véu do Templo se rasgou em dois, de alto a baixo (Mc 15:38). Agora temos livre acesso à presença do Senhor Deus.
- A Arca da Aliança representava a própria presença de Deus entre o povo. Era um cofre de 1,15m por 0,70m, construído de acácia e revestido de ouro por dentro e por fora. Sobre a coberta da Arca ficavam dois querubins (seres angelicais) diante um do outro, feitos de ouro, que com suas asas cobriam o local conhecido como “propiciatório”(a tampa da Arca). Segundo Silas Daniel, “o propiciatório recebia este nome porque era o lugar da expiação, onde estava simbolizada a misericórdia”.
Neste lugar Deus manifestava a sua glória. As figuras dos querubins, com as asas estendidas para cima, e o rosto de cada um voltado para o rosto do outro, representavam reverência e culto a Deus. Só podia ser carregada pelos sacerdotes (Nm 9:15-17; 2Sm 6:1-15), que a carregavam nos ombros, assim como faziam com todas as peças do santuário (Nm 7:9).
Dentro da Arca havia três objetos: as duas tábuas da Lei, um vaso com maná, e mais tarde se incluiu a vara de Arão. Todos esses objetos lembravam a Israel o concerto e o amor de Deus.
a) As tábuas da Lei. As tábuas da lei(o Decálogo) simbolizavam a santidade de Deus e a pecaminosidade do homem. Também lembrava aos hebreus que não se pode adorar a Deus em verdade sem se dispor a cumprir sua vontade revelada.
b) O Maná. Moisés, sob ordens divinas, ordenou que fosse colocado diante do Senhor um vaso contendo um gômer (3,7 l) cheio de maná (Êx 16:32,33). Este recipiente seria guardado para as gerações futuras. Simbolizava a constante provisão divina. O fornecimento do maná era diário. A lição de Deus para Israel, como também para os cristãos, é que os crentes têm de depender de Deus dia após dia.
c) A Vara de Arão que florescera. A Vara nos fala da autoridade conferida a alguém. A Bíblia diz que Deus fez com que essa vara miraculosamente florescesse para confirmar diante do povo a chamada de Arão para ser o sumo sacerdote (Nm 17:7-11; Hb 9:4). Nossa autoridade quando colocada diante de Deus brota, aparece para que todos vejam e saibam que nosso ministério foi realmente dado a nós por Deus.
CONCLUSÃO
O Tabernáculo não existe mais, porém a Bíblia diz que, desde o dia em que entregamos nossa vida a Cristo, passamos a ser templos - tabernáculos - do Espirito Santo (1Co 6:19,20), peregrinando no deserto desta vida, aguardando o Dia em que seremos transportados para a nossa Terra Prometida - a Cidade Celestial (Fp 3:20). Portanto, onde quer que estejamos, carreguemos e manifestemos a glória do Senhor em nossa vida; e para que isso se torne uma realidade, que os seus mandamentos estejam sempre gravados no fundo do nosso ser. Amém!
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Assembleia de Deus - Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo - Aplicação Pessoal.
Revista Ensinador Cristão - nº 57 - CPAD.
Eugene H. Merrill - História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.
Paul Hoff - O Pentateuco. Ed. Vida.
Leo G. Cox -  O Livro de Êxodo - Comentário  Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
Silas Daniel - Uma jornada de Fé (Moisés, o Êxodo e o Caminho à Terra Prometida). CPAD.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


GAFANHOTOS DÊMONIOS



GAFANHOTOS DEMÔNIOS – ANÁLISE À NATUREZA METAFÓRICA DA LINGUAGEM TEOLÓGICA

O gafanhoto é freqüentemente mencionado no Antigo Testamento, por causa de seus hábitos devastadores.

Usos figurados do gafanhoto:

a) Grandes números, como os exércitos dos assírios. Naturalmente, temos aqui, igualmente, o poder destruidor de tais números (Is 33.4,5; Nm 3.15,17).

b) Os julgamentos divinos usam as forças da natureza, ou literalmente, como no caso das pragas dos gafanhotos, ou mediante algum outro poder, simbolizados pelos gafanhotos (Jl 1.1,6,7; 2.2-9).

As pragas de gafanhotos eram algumas vezes interpretadas como visitações da indignação de Deus. Uma praga de gafanhotos foi um dos mais severos males que poderiam sobrevir ao mundo antigo (Dt 28.38; Jl 2.1,12).

Dias especiais de oração, jejum e toque de trombeta foram prescritos para remover a praga (1 Rs 8.37; 2 Cr 6.28; Jl 2.1.11).

Qualquer estudioso da Bíblia Sagrada sabe, através de Comentários Bíblicos ou de Bíblias com versículos comentados sabe que a praga dos gafanhotos relatadas no livro do Profeta Joel capítulo primeiro era real, a ponto de cobrir a terra e devorar as colheitas. Joel previu a invasão do Norte pelos exércitos da Assíria e da Babilônia ao tipificá-lo como gafanhotos (Jl 2.20). Os teólogos, por sua vez, são unânimes em concordar que a praga dos gafanhotos foi apenas o prenúncio do Juízo Divino que acontecerá no Dia do Senhor, ainda que haja muita controvérsia entre eles para explicar essa expressão.

O “Dia do Senhor” é uma frase que aparece com freqüência no Antigo Testamento e no livro de Joel (2.1,11,31; 3.14). Ela sempre se refere a algum fato extraordinário, que pode acontecer no presente (como a praga dos gafanhotos), no futuro próximo (como a destruição de Jerusalém ou a derrota das nações inimigas) ou no período final da história quando Deus derrotará todas as forças do mal.

Mesmo quando o “Dia do Senhor” se refere a um fato presente, essa frase também prenuncia um dia final estabelecido pelo Senhor. Esse derradeiro evento da história tem dois aspectos: (1) o último julgamento sobre todo o pecado e todo o mal; e (2) a recompensa final que será concedida aos crentes que se mantiveram fiéis. A justiça e a verdade prevalecerão, mas sempre acompanhadas de muito sofrimento (Zc 14.1-3)”. (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal – CPAD)

Alister E. McGrath, professor de Teologia Histórica na Universidade de Oxford, Inglaterra, considerado um dos mais influentes pensadores cristãos da atualidade, autor de diversas publicações nas áreas de Teologia Sistemática, Ciência da Religião, Espiritualidade e Apologética, quando trata da Natureza da Linguagem Teológica, cita três tipos de abordagem: Analogia, Metáfora e Acomodação.

“Com relação à metáfora, Aristóteles a definiu como o processo que envolve “o uso de uma palavra, por transferência, cujo uso originário designa outro objeto ou qualidade”. Tão ampla é essa definição que abrange quase todas as figuras de linguagem, inclusive a analogia. A metáfora é uma maneira de falar sobre uma coisa em termos que sugerem uma outra. Ela é, para usar a famosa frase de Nelson Goodman, “uma questão de atribuir um novo significado a uma palavra conhecida”.

“Em geral, as metáforas apresentam traços emocionais bastante fortes. As metáforas teológicas são capazes de expressar dimensões emocionais da fé cristã, de maneira a torná-las apropriadas à adoração. Ian G. Barbour sintetiza esse aspecto da linguagem metafórica da seguinte maneira: Quando as metáforas poéticas são usadas apenas momentaneamente em um contexto, em benefício de uma idéia ou percepção imediata, os símbolos religiosos tornam-se parte da linguagem de uma comunidade religiosa em suas Escrituras e liturgia, assim como continuamente em seu pensamento e em sua vida. Símbolos religiosos expressam emoções e sentimentos humanos, além de ser poderosos em inspirar respostas e compromissos”. (Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica – Uma Introdução à Teologia Cristã, Shedd Publicações-São Paulo-SP, 1ª Edição – Junho de 2005, 2ª Reimpressão – Setembro de 2008).

Metáfora é uma figura de linguagem em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam. É o emprego de palavras ou expressões com sentido figurado, é uma espécie de comparação abreviada, nascida da relação de semelhança ou característica comum entre dois seres ou fatos.

Alegoria é uma figura de linguagem que está dentro do que se classifica como figura das palavras, ou seja, relaciona-se a semântica, e encontra seu significado dentro das abstrações. De acordo com o dicionário Aurélio, Alegoria significa: “Simbolismo concreto que abrange o conjunto de toda uma narrativa ou quadro, de maneira que a cada elemento do símbolo corresponda um elemento significado ou simbolizado”, isto é, além de servir como figura de linguagem para textos, bastante comum em fábulas e parábolas, cabe também a obras de arte.

Em muitos casos, lições de moral são utilizadas como forma de alegoria, pois elas representam situações a partir de artifícios que significam alguma coisa por meio de outras coisas. A própria construção etimológica da palavra alegoria, que vem do grego allegoria, identifica sua função que significa, “dizer o outro”.

Embora opere de maneira semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria vai além da simples comparação da metáfora. A fábula e a parábola são exemplos genéricos (isto é, de gêneros textuais) de aplicação da alegoria, às vezes acompanhados de uma moral que deixa claro a relação entre o sentido literal e o sentido figurado.

Quintiliano, afirma que alegoria é “metáfora continuada que mostra uma coisa pelas palavras e outra pelo sentido”.

João Adolfo Hansen estudou a alegoria e publicou seu estudo em Alegoria: construção e interpretação da metáfora, distinguindo a alegoria greco-romana (de natureza essencialmente linguística, não obstante o anacronismo) da alegoria cristã, também chamada de exegese religiosa (na qual eventos, personagens e fatos históricos passam também a ser interpretados alegoricamente).

A alegoria tem sido uma forma favorita na literatura de praticamente todas as nações. As escrituras dos hebreus apresentam instâncias freqüentes dela, uma das mais belas sendo a comparação da história de Israel ao crescimento de uma vinha no Salmo 80. Na tradição rabínica, leituras alegóricas tem sido aplicadas em todos os textos, uma tradição que foi herdada pelos cristãos, para os quais as semelhanças alegóricas são a base da exegese.

Vejamos um exemplo contido em Joel 1.4 (A.R.A.), que diz:

“O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor”.

Com base na natureza metafórica da linguagem teológica, acima descrita, podemos, perfeitamente, comparar os tipos de gafanhotos referidos por Joel, com quatro tipos de demônios, pelas semelhanças e diferenças existentes entre as duas coisas que estão sendo comparadas, neste caso, gafanhoto e demônio, levando-se em conta o alto poder de destruição que ambos são capazes de ocasionar na vida dos seres humanos.

A metáfora sempre tem o caráter de “ser” e “não ser”: uma declaração é feita mais como um provável relato do que como definição. Isto é, ao dizer que os gafanhotos são comparados aos demônios, não se pretende definir gafanhoto como demônio, nem afirmar a existência de uma identidade entre os termos gafanhoto e demônio.

Segundo Sallie McFague, a característica mais atrativa da metáfora para a Teologia Cristã seja seu caráter aberto. Segundo ele, embora alguns críticos literários tenham sugerido que as metáforas possam ser reduzidas a um conjunto de expressões literais equivalentes, outros têm insistido no fato de que nenhum limite pode ser estabelecido no âmbito da comparação.

Dessa forma, a metáfora de gafanhoto como demônio, não pode ser reduzida a um conjunto de declarações específicas sobre gafanhoto, que sejam válidas para todos os tempos e lugares. Explica McFague, que a metáfora busca ser sugestiva, permitindo aos futuros leitores e intérpretes encontrar nela um novo significado. A metáfora não é simplesmente uma descrição elegante ou uma frase memorável sobre alguma coisa já conhecida. É um convite à descoberta de novos significados, que outros podem ter negligenciado ou esquecido.

Em Apocalipse 9.1-11, os gafanhotos não são insetos, mas referem-se a demônios, a hostes demoníacas, saídos do poço do abismo. Uma invasão de demônios cuja missão principal é atormentar os homens (9.4-5).

O Reverendo Hernandes Dias Lopes explica as características destes gafanhotos demônios: 1ª) são espíritos de obscuridade (9.2-3); 2ª) são espíritos de destruição (9.11); 3ª) são espíritos que tem poder e domínio (9.7); 4ª) são espíritos que tem inteligência (9.7); 5ª) são espíritos de sensualidade (9.8); 6ª) são espíritos de violência (9.8b); 7ª) são espíritos inatingíveis.

Outrossim, a menção dos gafanhotos contidos na quinta trombeta, como demônios propriamente ditos, vem corroborar com a interpretação metafórica em questão, ou seja, comparar os gafanhotos de Joel 2.4-10, com tipos de demônios que agem na vida das pessoas, destruindo suas famílias, a saúde, os bens materiais, etc..

Para concluir, leiamos o texto de Joel 2.25-27 (ARA):

“Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador, o meu grande exército que enviei contra vós outros. Comereis abundantemente, e vos fartareis, e louvareis o nome do SENHOR, vosso Deus, que se houve maravilhosamente convosco; e o meu povo jamais será envergonhado. Sabereis que estou no meio de Israel e que eu sou o SENHOR, vosso Deus, e não há outro; e o meu povo jamais será envergonhado”.

Aqui vemos claramente a promessa de restituição. Em Lucas 6.38, vemos a lei da reciprocidade divina, na qual o Senhor nos abençoa de quatro maneiras diferentes: boa medida; recalcada; sacudida; transbordante.

Recomendo que você faça um conserto de fidelidade, de honestidade, de santidade e de generosidade e todo poder dos gafanhotos (demônios), da ruína e da miséria será destruído em nome de Jesus!

Texto do Pr. Wagner Tadeu dos Santos Gaby